Roberto Gameiro
A revista Veja publicou, em sua edição do dia 14 de outubro deste ano de 2015, reportagem sob o título "Um por todos", em que aborda a iniciativa do governo, por meio do Ministério da Educação, da proposição de um currículo nacional para 100% das escolas do País.
A iniciativa é louvável, na medida em que segue uma tendência internacional que já teve êxito em outras plagas. A reportagem faz uma análise dos prós e contras da abordagem que os propositores dão no enfoque do documento inicial.
Chamou-me a atenção o fato de o documento não encarar, de forma corajosa, a necessária reformulação do currículo do ensino médio, já preconizada pelo próprio MEC em 2000, quando divulgou os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio. Ali, já se falava num currículo baseado em áreas e não em disciplinas compartimentalizadas, como forma de dar ao ensino um caráter de abrangência mais adequado às necessidades reais que os educandos terão para enfrentar os desafios da vida.
"Por meio da organização curricular por áreas e da compreensão da concepção transdisciplinar e matricial, que articula as linguagens, a filosofia, as ciências naturais e humanas e as tecnologias, pretendemos contribuir para que, gradativamente, se vá superando o tratamento estanque, compartimentalizado, que caracteriza o conhecimento escolar." (Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio – MEC, 2000).
Entretanto, de lá para cá, pouco se fez.
Os estudantes de ensino médio são submetidos, hoje, à necessidade de se dedicar ao estudo de 12, 13, 14 disciplinas diferentes, por ano, tendo de obter aprovação em todas para seguir para a série seguinte. Isso é lastimável, principalmente se considerarmos que muito do que se estuda não terá qualquer valor para a vida e só está ali para atender às demandas dos vestibulares.
Quando o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) estruturou o ENEM a partir das áreas do conhecimento e adotou a Teoria da Resposta ao Item (TRI) como metodologia de abordagem das questões, pareceu que estava ali uma iniciativa que iria contagiar governos e redes privadas a iniciar a mudança. No entanto, nada mudou; ao contrário, os estudantes passaram a ter de se preparar para o ENEM e, também, para os diversos tipos diferentes de vestibulares existentes. Piorou para os estudantes e para as escolas de Ensino Médio, cujos professores têm de se desdobrar para atender a toda a demanda programática.
Sabemos, entretanto, que essa mudança não é uma tarefa fácil de ser realizada; mas sabemos que ela terá de vir da iniciativa do governo, do MEC. Terá de ser uma mudança gradativa e implementada por meio de passos bem estruturados envolvendo, em primeiro lugar, uma reforma dos cursos universitários de licenciaturas, bem como a capacitação dos professores atuais, respeitando seus ritmos e suas experiências, para essa nova realidade do ensino por áreas e não por disciplinas, com a ênfase óbvia na interdisciplinaridade e na problematização.
Creio que uma boa leitura da teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner, da Universidade de Harvard, ajudará bastante.
Creio que uma boa leitura da teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner, da Universidade de Harvard, ajudará bastante.
Ainda há tempo de o MEC aproveitar esta oportunidade para, de forma corajosa, implementar as mudanças tão requeridas em relação ao Ensino Médio, fazendo-o através da participação ativa de todos os segmentos, públicos e privados, ouvindo os educadores e a sociedade em geral.
Artigo publicado no jornal "O Popular" de Goiânia, em 25/10/2015.
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Roberto Gameiro é Palestrante, Consultor e Mentor
na área de “Gestão de escolas de Educação Básica”. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br.
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