Roberto Gameiro
Competência é a capacidade de o indivíduo movimentar recursos
para abordar/resolver uma situação complexa. Entre as competências que um
processo de ensino e aprendizagem deve desenvolver nos estudantes, a “memorização”
é a mais simples delas. Embora seja a mais simples, ela é a base que sustenta
todo o arcabouço posterior que o indivíduo deve adquirir para resolver
situações mais complexas.
A memorização, também denominada como fase de “conhecimento”,
constitui-se na evocação de informações arquivadas ou armazenadas na memória. É
como se fosse, num primeiro momento, uma memória RAM, que, transferida para o
disco rígido, passa a ser base de processamentos mais apurados e complicados.
Sem ela, seria como tentar construir uma casa sem o alicerce.
Por óbvio, e desculpem-me a simplicidade da comparação, nenhum
engenheiro vai considerar terminada uma obra com apenas o alicerce construído.
Há muito, ainda, a ser feito até que a edificação possa ser considerada
concluída, sólida, pronta, satisfatória e adequada para o uso a que se destina.
Analogamente, nenhum processo de aprendizagem pode se
considerado satisfatório sem que os estudantes tenham adquirido, além da memorização,
também as capacidades de compreensão do que foi memorizado,
de aplicação
do que foi compreendido, de análise e síntese do que foi
memorizado, compreendido e aplicado, e, especialmente, sem que os alunos
estejam preparados para fazer julgamento crítico sobre o que foi
memorizado, compreendido, aplicado, analisado e sintetizado. Esse é o ciclo
completo do apaixonante concerto do aprendizado.
As competências aqui relatadas, memorização (ou
conhecimento), compreensão, aplicação, análise, síntese e julgamento (ou
avaliação), são as propostas por Benjamin Bloom (e outros) na sua “Taxionomia
de objetivos educacionais – domínio cognitivo” lá no longínquo ano de 1956 (a
primeira edição do livro no Brasil data de 1972). Hoje, fala-se em competências
“básicas”, “operacionais” e “globais”, que, no fundo, podem ser classificadas
como mais abrangentes, mas equivalentes às de Bloom. É comum fazer-se a
analogia, a correspondência, de umas com as outras, tendo as primeiras como
referência para facilitar a compreensão.
Se você quiser saber de que forma e com que profundidade um
professor está desenvolvendo o processo de aprendizagem com os alunos, você não
precisa necessariamente assistir às suas aulas. Basta analisar as questões
inseridas nos seus instrumentos de avaliação. Ali, descobre-se se o docente
está na superficialidade da mensuração apenas das competências mais simples, ou
se chega a enfocar situações mais complexas, como as chamadas competências
“globais”. A prova é um retrato da metodologia e da práxis docente.
A prática tem demonstrado que num grande número de escolas
brasileiras a metodologia adotada não tem conseguido fazer com que os
estudantes adquiram competências mais exigentes, mormente as de “síntese” e
“julgamento”, ou “globais”.
Nos resultados do “Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes” (PISA), coordenado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), e, no Brasil, pelo INEP, ocupamos, desde há muito, posição
vexatória no ranking dos países avaliados. Entre as principais fragilidades dos
estudantes brasileiros, está o fato de que eles geralmente só “vão bem” nas
questões que mensuram capacidades mais rasas, ou, melhor explicando, as “decorebas”.
Isso é sintomático, está assim diagnosticado há muitos anos, mas continuamos na
mesma.
Somos um sistema de formação escolar que tem se contentado
apenas com pouco mais do que o “alicerce”.
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Roberto Gameiro é Palestrante, Consultor e Mentor nas
áreas de “Gestão de escolas de Educação Básica” e “Educação de crianças e
adolescentes”. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br.
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