Roberto Gameiro
Conta-se que certo escritor rascunhava seus textos manuscrevendo-os e depois sua secretária os transcrevia. Ocorre que certa vez a secretária não conseguiu entender uma passagem manuscrita e pediu ajuda ao escritor. Ele tentou ler o que havia escrito e, depois de várias tentativas, devolveu a ela e disse:
- Quando eu escrevi esse texto, eu e Deus sabíamos o que estava escrito;
- Agora, só Deus!
Nos Estados Unidos, muitos Estados aboliram a letra cursiva nas escolas, sob a alegação de que o uso cada vez mais frequente, pelos alunos, de computadores, torna desnecessário que a criança concentre esforços na forma cursiva.
Magda Becker Soares, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, afirma que a abolição da letra cursiva na escola não traz perda propriamente na aprendizagem escolar, mas sim na aprendizagem para a vida social, nas comunicações pessoais como bilhetes, listas de compras, atividades que a escrita com lápis e papel resolve mais rapidamente, preservando a intimidade da comunicação.
Entre os médicos, a situação está sendo amenizada, já que a maioria utiliza o computador para "escrever" as receitas. No site do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, há um artigo da revista Superinteressante de maio de 2009 que informa que aquele sistema registrou, só em 2007, 1853 casos de intoxicação por erros de administração, dos quais, pelo menos 10% por “garranchos médicos”. Talvez por isso, o art. 11 do Código de Ética do CFM prevê que é vedado ao médico “receitar...ou emitir laudos...de forma...ilegível”. No dicionário eletrônico “Aurélio”, versão 7.0, a expressão “letra de médico” é definida como: “letra muito ruim, mais ou menos ininteligível”. Entretanto, não se pode generalizar; há médicos com letras exemplares. Por outro lado, não creio que nessa área, especialmente, a letra deva ser uma das principais competências dessa nobre profissão.
Nas escolas, públicas ou privadas, não há uma generalização da importância do ensino da escrita cursiva, faltando iniciativas para assumir a importância da caligrafia como parte do aprendizado escolar. Parece que muitos professores e gestores têm receio de serem taxados de “atrasados” se insistirem nesse ensino e nesse aprendizado. O fato, porém, é que, em geral, as nossas crianças e os nossos adolescentes escrevem muito mal, sendo difícil entender o que eles querem dizer nos seus textos.
Lembremo-nos de que a redação do ENEM, conforme a “Cartilha do Participante”, deve ser manuscrita com letra legível (não necessariamente cursiva), para evitar dúvidas no momento da avaliação, e que redação com letra ilegível não poderá ser avaliada.
Ademais, a versão final da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) faz referência à escrita cursiva como “habilidade” essencial nos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental.
Mesmo com o avanço da tecnologia e com a facilidade da escrita digital, que tem os seus méritos sem dúvida, há que se enfatizar, também, com as crianças e jovens, o aprendizado da escrita cursiva.
Afinal, ela não foi abolida do nosso dia a dia.
Ainda.
Artigo editado e publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 03/12/2017.
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Parabéns pelo antigo! Acho linda uma caligrafia legível.
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