Roberto Gameiro
Uma charge parecida com esta cena nós já vimos nas revistas, nos jornais, na Internet: uma família em visita à vovó, todos sentados nos sofás da sala, cada um “ligado” no seu celular; menos a vovó, que aguardara ansiosamente por esse momento e, mais uma vez, estava ali esperando algum sinal de vida presencial fora da vida virtual.
Só se ouve o barulho das teclas sendo apertadas num ritual frenético que, visto de fora, conhecidas as circunstâncias da visita, causa espanto e até indignação.
Certa feita, a vovó teve uma ideia que lhe pareceu brilhante: desligou o Wi-Fi; assim, sem Internet, haveria algum diálogo, alguma aproximação afetiva, algum “olho no olho”, enfim, uma visita familiar de fato. Ledo engano. Ela descobriu que tem o 3G, o 4G, o 5G e qualquer outro “G”. E tudo aconteceu como sempre.
De repente, na cena familiar, ouve-se uma voz. Que bom! Parece que vai se iniciar uma conversa. Tomara que os outros se contagiem e o relacionamento presencial aconteça!
Que nada! Era a neta gravando uma mensagem de voz para a mãe...que estava ali a menos de dois metros dela.
Houve época, recente, em que a televisão fazia esse papel anestesiador de relacionamentos. As poltronas das salas, antes posicionadas umas diante das outras para facilitar as conversas, mudaram de posição, ficando viradas na direção da TV, que “roubava” a atenção dos familiares para si, frustrando os diálogos interpessoais.
Interessante notar que em casos como esse aqui narrado, a TV geralmente está desligada, tal é o encanto e o arrebatamento que o celular provoca nos indivíduos. Estamos diante de uma mudança de época.
Não se pode negar, por outro lado, a importância que têm os celulares no dia a dia das pessoas, facilitando contatos, agilizando decisões pessoais e profissionais, enviando mensagens de texto, mensagens e ligações de voz e de vídeo, armazenando dados e contatos, calendário, e outras inúmeras funções.
Neste texto, eu faço enfoques que causam preocupação devido ao excesso, ao vício e à possível falta de bom senso, em algumas circunstâncias, no uso desse pequeno notável.
Educar as crianças e os jovens é uma nobre missão e um grande desafio que pais e educadores enfrentam diariamente, nesta sociedade globalizada.
Sociedade essa em que os relacionamentos se tornam cada vez mais complexos, as individualidades prosperam e costumes antes muito valorizados deixam de ser, contribuindo para uma certa anestesia social, um descompromisso com o outro, um descompasso relacional.
A família é o porto seguro que lastreia todas as nossas posturas e ações. Daí, a importância do diálogo constante dentro da família para que as crianças e os jovens se sintam fortalecidos para enfrentar os desafios que a vida inevitavelmente lhes trará.
E a visita familiar, na cena focada, continuou num “silêncio ensurdecedor”.
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Artigo publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 25/09/19 sob o título "Celulares: vida virtual?"
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Roberto Gameiro é Palestrante, Consultor e Mentor nas
áreas de “Gestão de escolas de Educação Básica” e “Educação de crianças e adolescentes”.
Contato: textocontextopretexto@uol.com.br.
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Bem, eu entendo que a Vida Virtual é tendência, irreversível. Mas uma boa linha de reflexões seria da perspectiva: O que está faltando na Vida Presencial para torná-la mais interessante do que a Vida Virtual?
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