Roberto
Gameiro
Se o conteúdo de uma norma ou regra não encontrar respaldo, justificativa, num valor preconizado pela organização, das duas uma: ou a regra não está conforme, ou falta a explicitação do princípio ou valor que lhe corresponde.
I – PRINCÍPIOS E VALORES
É comum, nas organizações, falar-se em “princípios e valores” como declarações que explicitam os compromissos assumidos pela instituição nas várias perspectivas de sua atuação, estando diretamente relacionados à missão. Seus significados devem ser partilhados com todos os que atuam na empresa, e revelam o preferível ou desejável.
Os princípios e os valores denotam, também, as razões da existência da empresa, as inspirações fundacionais e os porquês.
Entretanto, corriqueiramente se fala em “princípios e valores” e se enumera um elenco de atributos, geralmente louváveis e justificáveis, mas não se elucida quais são “princípios” e quais são “valores”. Ora, se nos referimos a “uns e outros”, é de se esperar que “uns” não sejam a mesma coisa que “outros”.
Costa (2007) registra que “princípios” são características perenes da organização, que, consequentemente, ela não se dispõe a mudar; são as crenças básicas, o credo da instituição, as motivações fundacionais, enfim, aquilo em que se acredita como justificativa da sua existência e que, se forem mudados, se perderá a razão de ser da organização; registra, ainda, que “valores” são características da organização que constituem virtudes, qualidades e méritos considerados importantes para o cumprimento da missão e para perenizar os princípios. Os valores devem ser preservados e incentivados, mas podem ser classificados numa escala entre extremos, como, por exemplo, centrais e periféricos.
Daí, decorre que “princípios” são mais abrangentes do que “valores”; estes últimos decorrem daqueles e constituem uma espécie de detalhamento, de melhor compreensão da aplicação deles.
Dessa forma, “valorizar a vida em todas as suas dimensões” será um princípio, e “promover a sustentabilidade planetária” será um valor. Esse exemplo de princípio e valor nos remete, também, à constatação da perenidade do princípio e à relatividade do valor. Com efeito, “sustentabilidade” é um valor que começou como periférico há alguns anos, e hoje é valor central em quase todos os planos estratégicos das instituições. Por outro lado, há valores que já foram centrais e hoje voltaram a ser periféricos, com tendência de até desaparecer da escala.
Está na hora de as organizações explicitarem melhor quais são os seus princípios e quais são os seus valores, diferenciando-os. Os clientes e os colaboradores, com certeza, vão agradecer.
II - NORMAS E REGRAS
Assim como os valores decorrem dos princípios, as normas e as regras que regulam a vida, a convivência, os fluxos e os processos, devem ter a ver com aqueles e decorrer deles.
La Taille (2006) escreve que a regra corresponde à formulação “ao pé da letra” e que o princípio corresponde a seu “espírito”. Quem se limita ao conhecimento das regras (...) não somente fica, na prática, sem saber como agir em inúmeras situações (porque não há regras explicitadas para todas), como corre o risco de ser dogmático e injusto, acrescentando que em compensação, quem conhece a missão, os princípios e os valores pode saber guiar-se em diversas situações e decidir como agir.
Assim, se o conteúdo de uma norma ou regra não encontrar respaldo, justificativa, num valor preconizado pela organização, das duas uma: ou a regra não está conforme, ou falta a explicitação do princípio ou valor que lhe corresponde.
Há que se pontuar, também, que elas se referem a todos os processos que ocorrem na organização, seja na área estratégica, seja na área operacional. Todos têm de ser disciplinados no cumprimento de suas atribuições/obrigações, desde o ocupante da função mais simples, até o da função mais complexa.
A norma, você segue; a regra, você cumpre. A regra é imposta; a norma é estabelecida. Assim, o enunciado: "O uniforme faz parte da identidade da organização" é uma norma; já uma regra decorrente, seria: "O uso do uniforme é obrigatório". Ou seja, a regra decorre da norma.
Lembrando sempre que somos espelhos para os públicos interno e externo e, como espelhos, temos de refletir imagens claras, bem nítidas de testemunho de moral e ética, sendo bons exemplos, atendendo prazos e atribuições.
Para que se tenha disciplina e ordem em todos os segmentos, departamentos e setores, há que se ter normas e regras que as regulem, de forma que o ambiente organizacional propicie condições para o cumprimento adequado da Missão, para o alcance das Metas e para a longevidade saudável da Instituição.
III - REFERÊNCIAS
COSTA,
Eliezer Arantes da. Gestão Estratégica: da empresa que
temos para a empresa que queremos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
LA
TAILLE, Yves de. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
Publicado originalmente em 07/12/17
(Leia também) (Siga-me) (Compartilhe!)
Roberto Gameiro é Palestrante, Consultor e Mentor
na área de "Educação de crianças e adolescentes" e “Gestão de escolas de Educação Básica”. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br.
SE VOCÊ GOSTOU DESTE ARTIGO, veja outros posts de
Roberto Gameiro em: http://www.textocontextopretexto.com.br.
Conheça o PORTFÓLIO de Roberto Gameiro:
PORTFÓLIO DE ROBERTO GAMEIRO - CLIQUE AQUI
Excelente artigo senhor Roberto realmente as organizações desde do núcleo familiar até grandes corporações devem fazer o básico..cumprir O que dizem fazer ou ser....
ResponderExcluirÉ sempre bom revisitar os conceitos clássicos sobre as organizações. Hoje, muitas empresas apresentam apenas um manifesto. As mais modernas vem encontrando outras formas de comunicar sua missao, visão , princípios e valores.Bom voltar de vez em quando as origens. Esse texto nos leva de volta aos conceitos aprendidos em Capacidades Organizacionais, Planejamento, etc. Uma iniciativa campeã ao nos relembrar desses fundamentos.
ResponderExcluirAbraços Roberto e Parabéns!