Roberto Gameiro
Por incrível que possa parecer, a
pandemia da COVID-19 está trazendo um fato novo, esperado por todas as pessoas
de bom senso, mas que se apresentava como difícil de ser concretizado nesta
sociedade em que muitos querem fazer valer os seus direitos, ou pretensos
direitos, mas cumprem pouco os seus deveres, mesmo aqueles subjetivos como a
valorização do trabalho e das competências dos outros.
Ainda é cedo para afirmar se esse
fato vai perdurar por muito tempo ou não, já que outra característica desta
coletividade é a “memória curta”.
Refiro-me à valorização do
trabalho, das competências e das responsabilidades dos professores,
especialmente aqueles da Educação Básica.
De repente e inusitadamente, pais
e mães estão em casa, isolados, 24 horas por dia, com seus filhos. É uma
experiência nova que não pode ser comparada, por óbvio, com os períodos de
férias escolares.
Antes da pandemia, podia parecer
que tudo estava bem e indo como sempre nas escolas públicas e privadas. Muitos
alunos continuavam a desrespeitar os professores, a desvalorizar o seu trabalho
e, em muitos casos, a vê-los como empregados seus. Os professores continuavam a
ser vigiados por alguns pais que, especialmente pelas redes sociais, não lhes
davam trégua; idem em relação aos coordenadores, seus auxiliares e diretores.
Embora esses pais talvez não percebessem, estavam fazendo mau uso do que
tinham.
Parecia. Mas não estava “tudo
bem”. Mas, sim, estava “tudo como sempre”.
Com os professores
desprestigiados e desvalorizados, inclusive nos salários, em especial nas redes
públicas, começou desde há alguns anos, a debandada docente para outras
ocupações e a redução das matrículas nos cursos de licenciatura no país todo. Hoje,
algumas escolas públicas não têm professores de determinadas disciplinas.
Agora, com a pandemia, muitas
escolas continuam na sua missão de levar a aprendizagem aos seus alunos através
da Internet. Os professores estão tendo de se superar exercendo uma ocupação
para a qual não foram previamente capacitados, preparando e “dando” aulas e
atividades para seus alunos através das redes sociais, com o objetivo de não
interromper o processo de ensino, o que seria muito danoso. E as escolas, com a
mesma preocupação, estão investindo nessa tecnologia, inclusive em algumas
redes públicas, embora saibamos que um enorme contingente de famílias não tem acesso à Internet; e aqui está um óbice deveras preocupante que faz por merecer atenção especial das escolas e das autoridades constituídas.
É neste momento que pais de
diferentes perfis, ao ter de acompanhar, supervisionar e ajudar os filhos na
execução das tarefas e atividades, têm reações divergentes a respeito dessa
situação; alguns elogiam as escolas e os professores, outros reclamam porque
entendem que as escolas e os professores estão a exigir muito de seus filhos (e
deles); há que se compreender essas diferentes reações porque também os pais e
os estudantes estão tendo de se adaptar a uma situação inédita que exige uma
rotina diferenciada para a qual nem todos têm as competências necessárias (e
não têm a obrigação de tê-las).
Entretanto, devemos levar em conta que estamos
no meio de um “furacão” chamado COVID-19 no mundo todo, e que numa pandemia
como essa cada um de nós tem de se superar e enfrentar com discernimento e sem
pânico o seu desafio particular, sem deixar de contribuir para o bem-estar da
comunidade em que se insere.
De qualquer maneira, mesmo com as
divergências, a sociedade como um todo agora parece ter um olhar diferente
para o nobre trabalho das escolas e dos professores e lamenta o que já não tem,
mesmo que temporariamente. Famílias estão percebendo a falta que fazem os
professores e as escolas no dia a dia na formação e na educação dos seus
filhos. É na falta que se valoriza o que não se tem.
E os pais podem perceber, segundo
o meu olhar de ex-diretor de escola particular, em muitos momentos, a admiração
que seus filhos têm pelos seus professores, que aparecem ali nas telinhas do
smartphone e ou do computador, nas suas casas, aproximando-se deles com muito
afeto, compreensão e ternura, admiração essa que muitos deles nem sabiam que
tinham.
Quando a situação voltar à
normalidade, acredito que a relação aluno-professor estará depurada,
aperfeiçoada e, obviamente, melhorada, assim como a relação
pais-professores-escola.
O ensino híbrido, que contempla atividades online e presenciais, que já era usado por poucos professores, agora, com esta pandemia, mostrou-se como uma possibilidade de enriquecimento do jeito de se desenvolver as aprendizagens escolares, e, ao que tudo indica, veio para ficar. Resta, entretanto, aos governos, prover os estudantes de famílias de pouco poder aquisitivo do acesso à Internet de banda larga e das ferramentas tecnológicas inerentes como smartphones e notebooks. É um grande desafio!
Já se disse que estamos numa
“mudança de época”.
Espera-se que apesar dos males que essa pandemia está
trazendo para o mundo todo, ocorra, no nosso país, uma vertiginosa guinada nos
relacionamentos no campo da educação, com a necessária valorização das escolas
e de seus professores. Talvez esse seja um largo passo para, como consequência,
aumentarmos a eficiência e a eficácia das escolas, especialmente as públicas, e
atingirmos melhores colocações nos rankings educacionais mundiais.
É uma oportunidade que não poderemos perder, mas investir nela.
Em tempo: o Papa Francisco, durante uma Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, dirigiu seu pensamento às dificuldades de docentes e alunos com as escolas fechadas em muitos países por causa da Covid-19. Veja o vídeo: https://www.vaticannews.va/pt/papa-francisco/missa-santa-marta/2020-04/papa-francisco-missa-santa-marta-coronavirus-professores-alunos.html
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Roberto Gameiro é Palestrante, Consultor e Mentor nas
áreas de “Gestão de escolas de Educação Básica” e “Educação de crianças e
adolescentes”. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br
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