Roberto Gameiro
Certa vez, há muitos anos, estava eu numa loja de compra e venda de carros usados (hoje chamados eufemisticamente de “seminovos”), tentando vender o meu carro (já bem usado) para o proprietário, num longo “jogo” de idas e vindas. Ele oferecia um valor, eu pedia um pouco mais, e assim ia, oferta após oferta. Até que o comprador, espirituoso e brincalhão, fez a sua última proposta: eu lhe pago “x”, mais um maço de cigarros e uma caixa de fósforos! Rimos juntos e o negócio saiu.
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Na vida, estamos sempre fazendo negociações. Elas acontecem entre pais e filhos, entre amigos, entre colegas de escola, entre familiares, e entre pessoas que mal se conhecem, mas que as circunstâncias as levaram a estar em uma negociação. E acontecem com muita frequência no campo profissional, ou por força do cargo que exercemos, ou com colegas de trabalho.
O dia a dia é pleno de “negociações”.
Entretanto, há determinados fatores que são inegociáveis.
Nas empresas, os princípios que regem e suportam as suas imagens não são negociáveis, em nenhuma circunstância, sob pena de a organização perder a sua própria identidade e caminhar fragorosamente para a perda de conceito no mercado e de possíveis vantagens competitivas conquistadas ao longo do tempo. Às vezes, vale mais a pena perder um negócio, uma licitação, do que colocar em risco o nome e o conceito da instituição.
As pessoas, homens e mulheres, que também têm princípios que regulam suas posturas e ações diante das circunstâncias, no seguimento do seu sentido de vida, precisam tê-los muito claros e presentes sempre para não perder a sua identidade e, o que é pior, a sua dignidade. São esses critérios que projetam a forma como somos conhecidos e citados e, portanto, são também inegociáveis.
E eles (os princípios) aparecem com força no processo de educação dos filhos, crianças e adolescentes. Quanto mais presentes estiverem no concerto das posturas do pai e da mãe, serão espelho nítido sob o qual as crianças vão crescer, se educar e formar.
E os filhos, acreditem, sem terem estudado lhufas de teoria administrativa, sabem muito bem quais serão as reações do pai e da mãe diante de um pedido deles. Sabem quem vai dizer sim e quem vai dizer não; isso, mesmo no caso de não haver princípios explicitados pelo casal (o que é muito comum). Os filhos sabem com quem negociar, pai ou mãe, de acordo com o tema da “negociação”.
A maioria das invenções e descobertas humanas se deu sob as premissas de “erro e erro”, “erro e acerto”. Isso se faz através de experiências. Às crianças, devemos propiciar oportunidades para vivenciar situações que lhes proporcionem a possibilidade de aprender fazendo.
Daniel Becker, pesquisador do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse, em entrevista recente, que “Uma criança que brinca no parque com amigos vai aprender a negociar, interagir, ter empatia, ouvir o outro, se fazer ouvir, avaliar riscos, resolver problemas, desenvolver coragem, autorregulação, autoestímulo, criatividade, imaginação… Uma série de habilidades que nenhuma aula vai oferecer para ela.”.
Precisamos fazer com que nossas crianças e nossos adolescentes consigam discernir sobre o que é certo e o que é errado, o que é negociável e o que é inegociável. Assim, estarão preparadas para dizer o “sim” ou o “não” quando solicitadas a fazê-lo.
É de Cícero (106-43 a.C.) a frase: “Existem duas maneiras de resolver conflitos: através da violência ou através da negociação. A violência é para animais selvagens, a negociação é para seres humanos.”.
É isso.
A propósito, eu não recebi o maço de cigarros e a caixa de fósforos na venda do carro, até porque eu não fumo...rss.
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Roberto Gameiro é Mestre em Administração com ênfase em gestão estratégica de organizações, marketing e competitividade; habilitado em Pedagogia (Administração e Supervisão); licenciado em Letras; pós-graduado (lato sensu) em Avaliação Educacional e em Design Instrucional. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br
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