Conta-se, acredito que de forma jocosa, que um senhor estava na sala de espera de um médico oftalmologista. Ele era o segundo a ser atendido. O primeiro, para puxar conversa, perguntou a ele o porquê de ele estar ali. Ele respondeu que era porque estava com conjuntivite nos olhos. O outro retrucou: “conjuntivite nos olhos, não; isso é pleonasmo”; nesse momento, o médico o chamou e ele entrou no consultório. Aí, a paciente que estava do seu outro lado, fez-lhe a mesma pergunta, ao que ele respondeu que até há pouco ele acreditava que estava com conjuntivite nos olhos, mas segundo aquele senhor que entrara no consultório, o que ele tinha era uma doença chamada pleonasmo...
O pleonasmo é uma figura de linguagem em que se repete desnecessariamente uma palavra já contida na frase. Conjuntivite só ocorre nos olhos. Outros tipos de pleonasmo são “entrar para dentro”, “subir para cima”, “duas metades iguais”, “sair para fora”, “gritar alto”, “multidão de pessoas”, “elo de ligação” e tantos outros.
Mas há um pleonasmo que constitui uma redundância imperdoável: é o famoso “há anos atrás” e suas variantes, que ouvimos diariamente, usado por pessoas das mais diversas classes sociais e profissionais. É tão simples lembrar que quando se usa o “há” não se usa o “atrás”; quando se usa o atrás, não se usa o há. Como exemplos: “Há dez anos” e “Dez anos atrás”.
Mas não estranhemos se de repente essa redundância venha a ser aceita como correta, pois essa hipótese já é defendida por alguns gramáticos pelo fato de a expressão estar consagrada pelo uso.
A língua portuguesa é pródiga em exceções à regra. Quando finalmente aprendemos uma regra, descobrimos que há exceções que devemos conhecer para não errar.
Você já passou por isso?
Ademais, encontramos, às vezes, situações risíveis de mau uso da língua materna. Vejam, por exemplo, a propaganda de uma faculdade, anos atrás, oferecendo como vantagem para o aluno: “um seguro educacional gratuito já incluso na mensalidade”.
Realmente, a língua portuguesa não é fácil. Em qualquer dos seus aspectos, o ortográfico, o fonético e o semântico; mesmo nós que a usamos no nosso ofício, enfrentamos, de vez em quando, dúvidas que nos impelem a consultar dicionários e até o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa).
Mas, por outro lado, como é linda a nossa língua portuguesa, mesmo sendo originada do Latim vulgar falado por soldados, camponeses e camadas populares. Quanto orgulho nos traz. Na prosa e na poesia ...
“Última flor do Lácio (*), inculta e bela; és a um tempo esplendor e sepultura. Ouro Nativo, que na ganga impura, a bruta mina entre os cascalhos vela ...”. Olavo Bilac
(*) Lácio – região da Itália na qual foi fundada a cidade de Roma.
(Leia também) (Siga-me) (Compartilhe!)
Contato: textocontextopretexto@uol.com.br
A riqueza da nossa língua é, muitas vezes; armadilha para os distraídos
ResponderExcluirParabéns pela publicação tão instrutiva!
ResponderExcluirExcelente texto, Roberto! Extremamente necessário como alerta aos constantes e repetidos erros que vemos ocorrer no uso da língua portuguesa.
ResponderExcluirNice post thank you Terry
ResponderExcluir