Neste artigo, utilizo o sentido da palavra “diagnóstico” na área da Medicina para doenças, e na área da Educação para não doenças.
Hipócrates (460 a.C. a 370 a.C.), considerado uma das pessoas mais relevantes da história da medicina, e reputado como “pai da medicina”, escreveu:
“É mais importante conhecer a pessoa que tem a doença do que a doença que a pessoa tem.”
Semana passada, acabei de ver o último capítulo da segunda temporada da série televisiva italiana “DOC – Uma nova vida” (Prime Video), que retrata o dia a dia de uma equipe de clínica médica num hospital de Milão. Curiosamente, ao longo da série, lembrei-me dessa afirmação de Hipócrates. O “médico” protagonista, a partir de um determinado momento da série, passa a ter um diferencial, em relação aos demais, por priorizar o conhecimento da pessoa em tratamento para consolidar diagnósticos, prática essa que o coloca, muitas vezes, em conflito com colegas.
Mas, há situações de não doenças que merecem análise parecida de conhecimento e interpretação do que está por trás de posturas e comportamentos diferenciados, especialmente de crianças.
A DISLEXIA
No âmbito escolar, muitas vezes, ao iniciarmos o processo de alfabetização, encontramos alunos que apresentam comportamento dispersivo nas aulas, com dificuldades para ler e escrever, e, por isso, passam por situações vexatórias causadas pelos colegas.
Certa vez, como diretor de escola, recebi a mãe de uma criança do quarto ano do Ensino Fundamental, recentemente transferido de uma escola pública. Ela vinha pedir ajuda para o filho que estava sofrendo bullying e tinha baixo aproveitamento nas aulas, especialmente nas provas escritas.
Feito o diagnóstico, descobriu-se que o menino era disléxico.
A dislexia não é uma doença. É um distúrbio de aprendizagem que necessita de algumas adequações no processo de ensino e avaliação.
Até há alguns anos, havia dificuldades para diagnosticar esse distúrbio, que causava preconceitos e estigmas às crianças que o tinham.
Pois bem, feitas as adequações no acompanhamento do aprendizado e, principalmente, na forma de aplicar avaliações, a criança teve progressos significativos, inclusive na autoestima.
Mas permaneceu a pergunta: como o estudante com dislexia chegou ao quarto ano do Fundamental sem que o distúrbio fosse diagnosticado?
A dislexia é um transtorno de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizado por dificuldades no reconhecimento da palavra, na decodificação e na soletração; elas geralmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem.
O AUTISMO
Ainda no âmbito escolar, as crianças com Autismo ainda não identificado também têm passado por situações constrangedoras, causadas por colegas, por terem dificuldades de comunicação, socialização e comportamento.
As pessoas autistas apresentam algumas características, como limitações no relacionamento com outras pessoas; muitas vezes são agressivos quando contrariados; não olham nos olhos das pessoas; preferem a solidão; não percebem o perigo iminente; preferem o isolamento, evitando o contato com outras crianças; têm ora hiperatividade, ora inatividade; risos sem razão; repetições constantes; resistências às mudanças; não são muito sensíveis a dores e portam-se muitas vezes como surdos.
Neste caso, também, o acompanhamento atento dos professores é ponto-chave para diagnosticar nas crianças os indícios do autismo e, assim, junto das famílias e de multiprofissionais, oferecer atendimento adequado a essas pessoinhas especiais com as quais temos o privilégio de conviver, aprender e ajudar.
O apresentador Marcos Mion, pai de um menino autista, tem um vídeo no YouTube, com o título “o amor e a paciência no autismo”, em que relata o seu relacionamento com os filhos. Vale a pena ser visto.(https://www.youtube.com/watch?v=XTBVwSNB1H0 )
Em ambos os casos, dislexia e autismo, que não são doenças, há que haver intensa parceria entre os pais, a escola e multiprofissionais para enfrentar os desafios inerentes, principalmente alto nível de compreensão, paciência, e, principalmente, amor; além, é claro, de manter os alunos em classes regulares.
SE VOCÊ GOSTOU DESTE ARTIGO, veja outros posts de Roberto Gameiro em: http://www.textocontextopretexto.com.br.
Roberto Gameiro é Mestre em Administração com ênfase em gestão estratégica de organizações, marketing e competitividade; habilitado em Pedagogia (Administração e Supervisão); licenciado em Letras; pós-graduado (lato sensu) em Avaliação Educacional e em Design Instrucional. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br
Conheça o PORTFÓLIO de Roberto Gameiro:
Muito interessante! Acabei de participar de um encontro no IAB-Instituto Alzheimer Brasil, que fala sobre Alzheimer e o estigma das pessoas portadoras, onde a atuação de equipe multiprofissional é extremamente importante, e principalmente o acompanhamento diário dos cuidadores familiares ou não, onde a prática é o exercício de amor! Vamos olhar com atenção especial para a pessoa que tem a doença, para além do diagnóstico, pois nossa passagem neste plano é muito efêmera.
ResponderExcluir