O TEXTO NO CONTEXTO COMO PRETEXTO - Para debates em família e na escola - Roberto Gameiro

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sábado, 27 de abril de 2024

NA SINTAXE DA VIDA, DEUS É ORAÇÃO PRINCIPAL

 


Roberto Gameiro

Noutro dia, remexendo no meu “baú” de fotos e lembranças antigas, reencontrei um cartão, num papel datilografado e já amarelado, com uma mensagem dirigida a mim, que, mais uma vez, me emocionou sobremaneira. 


Quando estava no meu segundo ano de magistério, eu lecionava “Língua Portuguesa” no curso que hoje seria a segunda fase do Ensino Fundamental.


A escola pertencia a uma congregação religiosa feminina, em que os princípios e os valores cristãos imperavam e norteavam todas as ações administrativas e pedagógicas, além de uma disciplina exemplar por parte de todos. 


Eu mal havia terminado o curso de licenciatura em Letras Modernas e estava ainda aprendendo a ser professor, mas tive a sorte de começar num bom colégio e numa época em que os professores eram respeitados e valorizados pelos alunos, pais e comunidade escolar. 


Era gratificante e prazerosa a atividade docente, trabalhando com adolescentes, meninos e meninas, amorosos e cumpridores das suas obrigações escolares.


Mas não deixava de ser uma jornada pesada e cansativa devido à extensa carga horária semanal de aulas, somada às preparações de planejamentos, relatórios e aulas, correção de provas e redações... Nesse sentido, nada diferente dos demais professores (à exceção das benditas redações! Rss)


Na minha carreira de professor e diretor escolar, como em qualquer carreira profissional, sempre houve momentos de alegria, de realização e de regozijo; mas, também, houve ocasiões de tristeza, de incompreensões e de chateações. 


Pois foi nessa época, num “Dia dos Professores” que recebi a homenagem que mais me sensibilizou na minha jornada docente e administrativa. 

 

Na ocasião, eu estava trabalhando, com os alunos das sétimas séries, o conteúdo “Orações coordenadas e subordinadas”. Aliás, esse sempre foi um dos temas que mais gostava de lecionar ...


Qual não foi a minha surpresa quando, ao entrar na sala para mais uma aula, os alunos de uma das sétimas séries me entregaram um cartão dobrado, com um decalque de crianças na capa, com uma página interna, na qual estava datilografada a seguinte mensagem:

Na sintaxe da vida, somos todos orações subordinadas que interdependem umas das outras. Todos nós exercemos o papel de subordinante e subordinada. A vida é um período composto por subordinação em que apenas “ELE” exerce o papel de oração principal. E, na nossa vida, a oração principal chama-se professor Roberto.


Não precisa ser um estudioso de semântica para perceber que a última frase é incoerente em relação à penúltima. Mas numa linguagem poético-metafórica como essa, o que vale é a intenção carinhosa dos estudantes em relação ao seu professor de “Português”.


Ao receber a mensagem, engasguei-me, e quase não tive palavras para agradecer. Acho até que meus olhos descarregaram algumas lágrimas rosto abaixo. Afinal, qual professor, no seu segundo “Dia dos professores”, recém formado, não ficaria emocionado com tal homenagem, espontânea, não esperada e sincera?


Os anos passaram e fui paraninfo e patrono de diversas turmas no ensino superior de Pedagogia, além de muitas placas comemorativas de metas alcançadas como diretor de escolas particulares; mas, nenhuma homenagem me sensibilizou tanto quanto essa.


Hoje, passada a emoção da época, percebo que a homenagem a mim prestada revela a interconexão e a interdependência das pessoas na vida, enfatizando que cada pessoa desempenha papel ora de sujeito, ora de objeto em relação aos outros, e que existe uma força maior que nos une, nos guia e nos fortalece.


Aqui está um bom tema para refletirmos com nossos filhos sobre nossas ações individuais e coletivas.


Que Deus nos abençoe e nos traga a paz.


Sempre.


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Roberto Gameiro é Mestre em Administração com ênfase em gestão estratégica de organizações, marketing e competitividade; habilitado em Pedagogia (Administração e Supervisão); licenciado em Letras; pós-graduado (lato sensu) em Avaliação Educacional  e em Design Instrucional. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br

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sábado, 20 de abril de 2024

MENSAGEM - CONVIVENDO, CONHECENDO E DIALOGANDO


 MENSAGEM DE ROBERTO GAMEIRO

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            TEXTO PARA VERSÕES EM OUTRAS LÍNGUAS 
            TEXT FOR VERSIONS IN OTHER LANGUAGES

À  medida  que convivemos  com   conhecidos,   amigos e parentes, vamos conhecendo  as   suas  posturas,   suas  formas de   ver  o mundo,  seus  assuntos   prediletos,  suas peculiaridades e suas aspirações. Daí, com o tempo, vamos nos adequando à forma de  conversar   com  cada  um   deles   para  tentar  tornar  os  diálogos  frutíferos. Vamos  conhecer  alguns  deles.  Há  os que  só falam  em doenças, médicos, exames, remédios, dores aqui e ali; com esses,  evite  a pergunta trivial “Como você está?” Há os que falam o tempo todo e não deixam  você  falar;  quando  você  consegue  uma  deixa  para falar,  é  perda  de  tempo  porque eles não o ouvem. Há os que só falam   de um determinado assunto o tempo todo, seja futebol, política,  governo. Há,  também,  aqueles que quando  lhe falam sobre João,   você   fica   sabendo   mais sobre   eles   mesmos   do   que sobre João. Há,  ainda  os que  sempre  têm  uma fofoca para contar; cuidado com esses; a próxima fofoca poderá ser sobre você.























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sábado, 23 de março de 2024

MENSAGEM - JULGAMENTO APRESSADO II


                             MENSAGEM DE ROBERTO GAMEIRO

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            TEXTO PARA VERSÕES EM OUTRAS LÍNGUAS 
            TEXT FOR VERSIONS IN OTHER LANGUAGES

Uma  garota  segurava  em suas mãos duas maçãs. Sua mãe  entrou e lhe pediu com uma  voz doce  e  um  belo  sorriso: – Querida,  você poderia dar uma de suas maçãs para a mamãe? A menina levanta os olhos para sua mãe durante alguns segundos, e morde  subitamente  uma das  maçãs  e, logo  em  seguida, a outra. A mãe sente seu rosto  esfriar  e perde o sorriso. Ela tenta  não mostrar sua decepção,  quando   sua  filha  lhe  dá uma de  suas maçãs mordidas; a pequena  olha  sua mãe  com um  sorriso de anjo e diz: – A mais doce é essa!  Muitas vezes, as aparências enganam, mas não  nos  culpemos,  também apressadamente, por equívocos dessa  natureza.   Somos   humanos  e,    portanto,   incompletos.  Estamos  sempre  em  busca  de  aperfeiçoamento.  Deus ainda não completou a sua obra em nós, assim como nos nossos irmãos. 

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sábado, 3 de fevereiro de 2024

HUMILDADE OU ARROGÂNCIA?

Roberto Gameiro

Se você estiver com seu carro num trânsito congestionado e precisar mudar de pista, se o motorista do veículo ao lado diminuir a velocidade para lhe dar passagem, ele demonstra humildade; se ele acelerar para não lhe dar passagem, ele demonstra arrogância. Em alguns locais, dizem que motoristas não dão a passagem porque significaria que o carro do outro é melhor do que o deles.
 
Humildade e arrogância. Dois extremos. 

Temas significativos para nortear o processo de educação e formação de crianças e adolescentes, nossos filhos e nossos alunos. 

Roberto Naves Amorim escreveu no seu artigo “A arrogância dos arrogantes” (1) que “Arrogância é o sentimento que caracteriza a falta de humildade. É Fingir-se de humilde; é não aceitar o erro; é não pedir desculpas quando erra. A Arrogância é filha do orgulho, irmã da soberba, prima da altivez, amiga da vanglória e parceira da jactância. (...) Pessoas arrogantes são extremamente vaidosas. Elas têm um espírito altivo. Elas se acham mais que os outros. Uma das demonstrações da vaidade é que elas nunca estão dispostas a ouvir.”. 

Os arrogantes sempre procuram nos outros as culpas pelos seus erros. Assumem como suas, expressões e ideias de outrem. Causam conflitos desnecessários nos ambientes familiar, social e profissional. E sempre têm a convicção de que estão certos e os outros errados.

Você conhece alguma figura assim?

Você já imaginou ter um companheiro de trabalho, um chefe, um cônjuge ou filhos assim?

É difícil conviver com pessoas arrogantes. Elas não deixam você terminar de falar, de argumentar, de explicar. Enquanto você fala, elas não o estão ouvindo. Estão só esperando uma deixa para continuar sua soberba, sua jactância. 

O texto bíblico define a soberba como o princípio da ruína, assim como a humildade como elevação à honra. (Provérbios 16,18 e 15,33)

Pessoas arrogantes geralmente não conseguem permanecer por muito tempo num mesmo emprego; desempregadas, passam por muitos processos de seleção sem lograr êxito; julgam-se mais importantes do que os próprios entrevistadores. Que bom seria se para cada arrogante houvesse um amigo verdadeiro e sincero que conseguisse vencer a prepotência dele e falar-lhe as verdades que ele precisa ouvir. Ouvir, compreender e aceitar. 

Essas são algumas possíveis características de alguém arrogante. Entretanto, precisamos tomar o cuidado de não generalizar, nem simplificar demais uma eventual avaliação de posturas, atitudes e ações de uma pessoa. Entre ser e estar há uma distância significativa. Afinal, qualquer um de nós pode eventualmente estar numa atitude ou postura arrogante intempestiva sem perceber e nos arrependermos ato seguinte.

Já a humildade significa o reconhecimento das limitações humanas e, em função disso, o relacionamento adequado com os outros, com estima, deferência e amorosidade. Neste contexto, a humildade representa uma pessoa respeitosa, reverente, solícita e cativante. Isso facilita e catalisa relacionamentos abertos a novas ideias, e perseverança em função dos desafios. Esta é a melhor forma de comunicar-se e desarmar (ou tentar desarmar) a soberba dos arrogantes.
 
Você é arrogante ou humilde?

REFERÊNCIA

(1) AMORIM, Roberto Naves. A Arrogância dos arrogantes, 2015. Encontrado em https://rnavesamorim.com/2015/11/09/a arrogancia-dos-arrogantes/.   Acessado em 27/01/2024.

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sábado, 20 de janeiro de 2024

FILHOS - FALTA DE LIMITES


Roberto Gameiro


Era um domingo ensolarado. Estávamos em um restaurante. O casal, o marido à frente e a esposa atrás, saía em um silêncio que era absurdamente atropelado pelos gritos estridentes do filho, de uns  cinco  anos,  que, ao  lado  da  mãe,  batia  nela  e  bradava repetidamente: - Eu não quero, porr ...!


Quando tinha mais ou menos essa idade, eu gritei essa mesma interjeição. Em fração de segundo, levei um safanão da minha mãe, que me fez rodar feito um pião. Até hoje, idoso, não consigo pronunciá-la. E isso não fez com que diminuísse o amor que sempre senti pela minha mãe. Tempos diferentes.

 

Não.

 

Não estou incentivando que se bata nos filhos. Até porque, acertadamente, esse tipo de atitude agora é proibido por Lei no Brasil.

 

Entretanto, cenas grotescas como essa aqui narrada no primeiro parágrafo acontecem com lamentável constância em shoppings, restaurantes, clubes e congêneres.

 

São cenas que carregam intensas sensações de desconforto em quem as vive e em quem as presencia.


Há os que focam a atenção nos pais. Há os que focam na criança. 

 

Nessas situações, as pessoas veem os pais e a criança ora como culpados, ora como vítimas; assim como, na forma de pano de fundo, reina em muitos o sentimento de “atire a primeira pedra quem nunca ...”


Aos meus filhos, quando faziam algo de errado, bastava um olhar firme da mãe, que eles chamavam de “olhar 43”, para tudo voltar à normalidade.


De qualquer maneira, a obrigação de colocar limites comportamentais nas crianças, desde a mais tenra idade, é dos pais. Essa obrigação não pode ser transferida aos professores. Os pais educam; os professores ensinam e reforçam a educação que os alunos trazem de casa. 


Certo é que para colocar limites nos filhos, os pais precisam, antes de tudo, definir os seus próprios limites comportamentais através de um elenco de princípios e valores significativos que norteiem as suas posturas e ações e que sirvam de exemplos para a condução da educação da prole.


Como já escrevi num outro artigo, se os pais não colocarem limites nos filhos, quem vai fazer isso no futuro? A polícia?


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sábado, 16 de dezembro de 2023

ESPALHANDO POSITIVIDADE, FELICIDADE E ALEGRIA

 

Roberto Gameiro


O primeiro deu uma resposta “atravessada”, cheia de grosserias, para o amigo; este, sentindo-se ofendido, retrucou no mesmo baixo nível. O bate-boca terminou com o que parecia ser o fim de uma amizade de muitos anos. 


Passados alguns meses, o primeiro procurou o “amigo” e pediu-lhe desculpas pela forma como o tratou; disse que estava num dia ruim, com problemas pessoais e profissionais, e “descarregou” nele. Estava arrependido. 


O amigo, por sua vez, também se desculpou pela sua contrapartida, e que igualmente se arrependia da forma como agiu. A amizade voltou à normalidade. 


Você já teve, ou soube, de alguma situação assim?


É mais comum do que parece.


Mas, muitas vezes, o desfecho é definitivo e grandes amizades, que tinham tudo para prosperar, acabam, por motivo fútil ou desnecessário.


E, pasmem; acontece muito entre irmãos.


Entre dois, quando um não quer, não tem briga.


Entre dois, um deles precisa ter a iniciativa da reconciliação. 


Mas, o ideal é que não se chegue ao “bate-boca”.


Por mais próximo que o outro seja de nós, amigo ou parente, não conhecemos os desafios e dificuldades que ele está enfrentando no momento; por isso, eventualmente podemos encontrá-lo de mau humor e irritadiço. Nestes casos, não é aconselhável responder da mesma forma. Ao contrário, devemos assumir uma postura dialogal de simpatia e empatia. Talvez, seja disso que ele esteja precisando. 


Nos relacionamentos sociais, familiares e profissionais, a postura de bondade, positividade e alegria pode ser um divisor de águas que aplaca a irritabilidade e produz empatia e compreensão mútuas. 


Ofereça um sorriso acompanhado de um olhar compreensivo. Esse simples gesto pode ser significativo o bastante para provocar um clima ameno e aproximativo, que poderá desbancar a negatividade do outro, assim como a água morna desfaz um bloco de neve. 


Também nossos filhos e alunos passam por momentos difíceis, principalmente na adolescência, para enfrentar seus desafios na construção e amadurecimento das estruturas mentais. Por isso, a importância da presença significativa e constante dos adultos, especialmente dos pais, durante o processo de educação deles.


Dessa forma, seremos agentes de positividades, contribuindo para a construção de ambientes interativos que poderão impactar a vida daqueles com quem nos relacionamos. 


E como escreveu Mahatma Gandhi ...

“Mantenha seus pensamentos positivos, porque seus pensamentos tornam-se suas palavras. Mantenha suas palavras positivas, porque suas palavras tornam-se suas atitudes. Mantenha suas atitudes positivas, porque suas atitudes tornam-se seus hábitos. Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores. Mantenha seus valores positivos, porque seus valores ... tornam-se seu destino.”

É isso!

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sábado, 2 de setembro de 2023

EDUCANDO PARA A PAZ


Roberto Gameiro

Maria Montessori (1870-1952), educadora, médica e pedagoga italiana, escreveu:

As pessoas educam para a competição, e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia, estaremos a educar para a paz.

Ela viveu as agruras das primeira e segunda guerras mundiais e o período entreguerras que apresentou muitas mudanças sociais, políticas e econômicas para todo o mundo, e, portanto, sabia muito bem sobre o que estava falando. 

Costuma-se dizer que as pessoas em geral têm “memória curta” e, com frequência, repetem posturas e ações que levaram a conflitos que geraram muita tristeza e desagregação.

Há atividades humanas em que a competição é inerente e necessária, como nos esportes, por exemplo, em que deve se caracterizar por ser saudável, estimulante e motivadora para o crescimento profissional e pessoal dos atletas, das equipes e da sua representatividade, inclusive das torcidas. 

No entanto, não é o que temos visto mundo afora, com verdadeiras “batalhas” entre torcidas, com, inclusive, mortos e feridos. Há, aqui, uma completa inversão de valores, que nos envergonha como homo sapiens que, etimologicamente, significa “homem sábio”. Mas, que “homem sábio” é esse que pratica essas barbaridades?

Clint Eastwood, cineasta americano disse certa vez: “Todo mundo fala sobre como deixar um planeta melhor para nossos filhos. Na verdade, deveríamos tentar deixar filhos melhores para o nosso planeta.”.

Idealmente, o processo educacional, desde a idade mais precoce, deve levar à construção de uma sociedade harmoniosa e resistente à deflagração de conflitos, sejam eles locais, regionais, nacionais ou entre nações. 

Para se chegar a uma educação focada na cooperação e na solidariedade, há que se conseguir, de forma concisa e integradora, mudanças significativas nos currículos das escolas, e na sociedade como um todo em relação aos valores por ela promovidos.

Numa educação para a paz, prioriza-se a formação para a ética e a aquisição de competências e habilidades de comunicação e resolução de conflitos, o que requer, como pano de fundo, um aprofundamento de vivências interpessoais saudáveis, o que inclui o respeito e o cuidado com o meio ambiente e a sustentabilidade do planeta. 

Enfim, a mensagem de Maria Montessori, nos convida à reflexão sobre como podemos contribuir para a formação de cidadãos conscientes e empenhados em suas posturas e ações para a construção de uma sociedade mais solidária, mais amorosa e colaborativa. 

Um mundo em paz.

Vamos fazer a parte que nos cabe?

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sábado, 19 de agosto de 2023

SOBRE BOTÕES, FLORAÇÕES E SABER



Roberto Gameiro

Há uma música infantil muito conhecida que tem diversas letras adaptadas à bela melodia. 

Talvez, você se lembre desta:

Antes de, antes de entrar na escola, somos simples, somos simples “bootões”, mas o saber, o saber nos transforma em risonhas, em risonhas florações ... 
 
Lembrou?

Pois é; trata-se de uma peça semântica que traz, além de uma mensagem agradável aos ouvidos, um texto que dá prazer aos sentidos das crianças.
 
Trata-se de uma metáfora que, ao relacionar botões, florações e saber, nos conduz ao núcleo do processo de aprendizagem e do crescimento humano, mostrando-nos o caminho que trilhamos desde pequenos, indicando-nos como o conhecimento nos torna pessoas mais realizadas e plenas.

Muito feliz a escolha da palavra “saber”, pois o saber é a comunicação do “conhecimento” sob a forma de informação (que se transformará, então, em novo conhecimento na memória do interlocutor).

Na primeira infância, nossas mentes estão abertas e sedentas por entender o mundo que não fizemos, mas ao qual temos de nos adequar e conviver. A curiosidade povoa nossas mentes e, a cada nova descoberta, construímos e delineamos mais e mais nossa cognição e equilibramos nossas emoções. 

No extraordinário mundo do conhecimento (e do saber) aprendemos sobre geografia, matemática, ciências, línguas e um sem-número de possibilidades cognitivas e emocionais. 

Isso nos proporciona a possibilidade de acrescentar às nossas mentes inimagináveis quantidades de conhecimentos que nos permitirão florescer, crescer e nos desenvolvermos, tornando-nos capazes de entender e de usufruir das intrincadas características do mundo em que vivemos.

Assim como as plantas não param de crescer e florescer, e, para isso, precisam de cuidados, também o processo de busca do conhecimento e do consequente saber deve ser permanentemente alimentado para que estejamos sempre prontos para enfrentar os desafios que a vida inexoravelmente nos trará.
 
Botões, florações e saber: um ciclo metafórico virtuoso.
 
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sábado, 29 de julho de 2023

AMOROSIDADE DOCENTE


Roberto Gameiro


Ao perceber que o teto do prédio da escola estava desabando, a “berçarista” Raquel, de 32 anos, correu em direção às crianças para protegê-las servindo-lhes de escudo. A saída para o lado que não desabou estava mais perto dela, mas ela preferiu as crianças. Foi um ato de amor e de coragem. Era o dia 18 de abril de 2018, numa escola municipal de uma cidade do interior de São Paulo.

Este artigo já tem a sua versão editada e ou atualizada em PODCAST no SPOTIFY para sua comodidade ou para pessoas com deficiência. CLIQUE AQUI


Todos os anos, as educadoras e os educadores das Creches, da Educação Infantil e do Fundamental recebem uma nova “turminha” e se apaixonam por cada uma daquelas crianças, daqueles tesouros.

É inevitável o afeto desencadeado no coração e na mente dos(as) educadores(as) quando passam a conviver com criaturinhas tão especiais que cativam e, por cativar, passam a ser, cada uma delas, únicas no olhar e no cuidado. Vale lembrar o diálogo da raposa com o principezinho em “O Pequeno Príncipe”: “Mas, se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo”. 

A reação instintiva e imediata de Raquel é própria dessa relação que se cria entre os docentes e os pequenos discentes nas escolas, sejam elas públicas ou privadas.

Paulo Freire falava em “amorosidade”, acrescentando que “ a educação é um ato de amor e, por isso, um ato de coragem“. E dizia, também, que a afetividade não o assustava e não tinha medo de expressá-la, e que essa abertura ao querer bem era a maneira que tinha de autenticamente selar seu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano (veja mais em “Pedagogia da Autonomia” – 1996). 

As crianças precisam de proteção, de cuidados, de acolhimento, de afeição, o que se estabelece através do amor que começa em casa, na família, e se estende para a escola. Quando a criança se percebe amada pelos seus educadores, ela espalha esse afeto para todos com quem convive. O amor é contagioso.

Que bom!

Mas, em relação ao berçário em que Raquel trabalha, fica a pergunta: por que o teto desabou?

Sobre o acidente, veja mais em: 
https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2018/04/18/interna_nacional,952526/teto-de-escola-em-agudos-no-interior-de-sp-desaba-e-deixa-11-feridos.shtml

Publicado originalmente em 12/01/2020

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sábado, 20 de maio de 2023

MENSAGEM - JULGAMENTO APRESSADO


                 MENSAGEM DE ROBERTO GAMEIRO

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TEXTO PARA VERSÕES EM OUTRAS LÍNGUAS
TEXT FOR VERSIONS IN OTHER LANGUAGES 

Muitas vezes, tiramos conclusões precipitadas a respeito do que vemos, ouvimos ou lemos. E quando nos damos conta do nosso equívoco de interpretação, ficamos desconcertados e, conforme o caso, até envergonhados. Então, que tal, antes de julgar o que vemos, ouvimos ou lemos, fazer uma análise do contexto, começando com uma pergunta, ao invés de uma afirmação? Isso implica uma outra capacidade, que é a abertura constante ao diálogo; quem não a tem, corre riscos iminentes de isolar-se no seu “mundinho” particular de falsa sabedoria. Tome muito cuidado especialmente com aquilo que você ouve, mas não vê.

























 

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sábado, 22 de abril de 2023

RELACIONAMENTOS FAMILIARES

Roberto Gameiro

Era uma tarde quente de verão. Eu estava participando de um encontro profissional de planejamento estratégico que seguia por vários dias. No local da atividade, não havia sinal para funcionamento dos celulares (ainda na época dos “tijolões”). A única opção, para contato com as famílias, era um boteco tipo mercearia que havia a uns seiscentos metros do local do encontro, e que tinha um telefone público. 


E lá íamos nós, um grupo de uns dez colegas de trabalho, homens e mulheres, das mais diversas funções; tropeçando nos buracos da rua sem asfalto e “comendo” poeira pelo percurso.


No local, o espaço era exíguo ao lado do “orelhão”, de modo que ficávamos meio que “amontoados” aguardando a nossa vez de falar, e (por óbvio) ouvindo as conversas dos colegas com seus familiares.


Foi quando um de nós, já de certa idade, pegou o fone e ligou para sua casa.

 

Logo, alguém atendeu e ele começou um diálogo que nos emocionou sobremaneira.


- Olá, meu amor, meu amorzinho! Quanta saudade de você! Você está bem? Não vejo a hora de voltar para casa para estar com você minha querida...


O diálogo prosseguia muito meloso, e, ao que tudo indicava, com reciprocidade do outro lado da ligação. 


E nós, sussurrando, comentávamos como ele era cuidadoso com a esposa, alguns até com inveja de tamanha dedicação, carinho e afeição.


Num mundo cheio de violência, que bom ouvir uma conversa tão amorosa, respeitosa e apaixonante entre um casal que se ama.


Depois de um tempo, ele terminou aquele contato e, engrossando a voz, perguntou:


- E a cascavel, está aí?


Foi aí que percebemos que ele estava falando, primeiro, com a filha dele.


E a cascavel vocês podem imaginar quem era. 

 

Num mundo cheio de violência, que tristeza sentimos ao ouvir um marido se referir assim à sua esposa. 


Mas, não nos enganemos. Há muitos assim. Eu mesmo conheci vários no exercício da minha profissão de diretor escolar.


Entretanto, não podemos nem devemos nos precipitar no julgamento de quem quer que seja.


Eu mesmo tenho feito julgamentos precipitados, dos quais tenho me arrependido depois de ter a oportunidade de conhecer o outro lado do fato; estou procurando melhorar. 

 

Antes de qualquer coisa, devemos nos perguntar se temos o direito de fazer julgamento acerca de relacionamentos alheios.

 

Os relacionamentos humanos, em especial os conjugais, são complexos e cheios de nuances difíceis de serem entendidas e compreendidas por quem está de fora.


Há um ditado popular que diz “Em briga de marido e mulher, não metas a colher”.


É do jornalista, filósofo e professor Clóvis de Barros Filho a afirmação: “Pessoas de bem não gostam de machucar aquelas que amam. E a gente vai aprendendo a estabelecer acordos na vida para diminuir cada vez mais a chance de machucar as pessoas.”.


Costumo brincar dizendo que algumas pessoas não têm um órgão denominado “Desconfiômetro”, e que deveriam tomar um “medicamento” denominado “Simancol”.

 

Mas, brincadeira à parte, o episódio aqui narrado aconteceu na segunda metade dos anos 1990. Espero que hoje ele esteja chamando a filha e a esposa de “meu amor”, "meu amorzinho”.


Afinal, num relacionamento conjugal, “um precisa do outro tanto quanto o outro precisa do um”.


 Assim como os filhos precisam dos dois.


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Roberto Gameiro é Mestre em Administração com ênfase em gestão estratégica de organizações, marketing e competitividade; habilitado em Pedagogia (Administração e Supervisão); licenciado em Letras; pós-graduado (lato sensu) em Avaliação Educacional  e em Design Instrucional. 

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sábado, 18 de fevereiro de 2023

PALAVRAS DE AMOR



Roberto Gameiro


Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês escreveu que "O amor é poesia. Um amor nascente inunda o mundo de poesia; um amor duradouro irriga de poesia a vida cotidiana; o fim do amor devolve-nos a prosa.".  


Noutro dia, encontrei na Internet um texto de autor desconhecido que, sob o meu olhar, poderia ser parte do discurso de um orador de turma numa festa de formatura. 


Mensagem aos pais:

A vocês, que nos deram a vida e nos ensinaram a vivê-la com dignidade, não bastaria um obrigado. A vocês, que iluminaram os caminhos obscuros com afeto e dedicação para que os trilhássemos sem medo e cheios de esperanças, não bastaria um muito obrigado. A vocês, que se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos, para que, muitas vezes, pudéssemos realizar os nossos. A vocês, pais por natureza, por opção e amor, não bastaria dizer que não temos palavras para agradecer tudo isso. Mas é o que nos acontece agora, quando procuramos arduamente uma forma verbal de exprimir uma emoção ímpar. Uma emoção que jamais será traduzida por palavras.

Amamos vocês!


Quanta verdade e quanta emoção encontra-se nesse texto.


No entanto, trata-se de um texto parecido com tantos outros que já ouvimos em cerimônias que tais. 


Mas, mudando o contexto e focando no nosso dia a dia, vem a pergunta que não quer calar:


- Qual foi a última vez que você se dirigiu aos seus pais, aos seus filhos, à sua esposa, ao seu marido, dizendo que os ama?


Te amo ... 


Duas palavras. 


Juntas, formam apenas três sílabas. 


Cinco letras que alegram e tocam fundo no coração e na mente de quem as profere e de quem as ouve.


Essa expressão pode ser usada ao exagero. Ela não se desgasta. Ao contrário, quanto mais é usada, mais ela incorpora e fortalece o seu próprio significado de unir pessoas, sentimentos, pertenças, carinho.


Ela pode ser escrita juntada a “um beijo”, ou falada frente a frente, olho no olho ... sempre.


E, sob o meu olhar (claro que você pode não concordar comigo), a resposta amorosamente assertiva, escrita ou falada, para um “Eu te amo”, deverá ser, no mínimo, um “Eu também te amo” (com todas as letras), e não um simples “Também”, ou, pior ainda, um “Tb.”, mesmo considerando que o contexto desse diálogo sugere reciprocidade de intenções. 


O texto bíblico ensina: "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.". (1 Coríntios 13,4-7)


Amor de pais, de filhos, de cônjuges; cada um tem seu jeito especial de expressar e de viver o amor que os une.


Portanto, não deixe para dizer "te amo" apenas num contexto em que já caberá inexoravelmente outra palavra - de cinco letras também...


Adeus ...


Uma palavra.


Cinco letras que choram e tocam fundo no coração e na mente de quem as profere.


Até porque, como escreveu José Saramago, “A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver.”. 


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