Atualizado em 20/05/21
Roberto Gameiro
É de Cecília Meireles (1901-1964) a frase: “Quando eu ainda não sabia ler, brincava com livros e imaginava-os cheios de vozes, contando o mundo”.
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Todos sabemos como as crianças adoram ouvir histórias. Qual de nós não se lembra do quão prazeroso era escutar as histórias de vida contadas pelos mais velhos, e como a nossa imaginação navegava, emocionada, por possibilidades ora de mistério, ora de alegria, ou de tristeza, ou de esperança...
O período de vida que vai até os seis anos de idade é o que apresenta as maiores e melhores oportunidades para a aquisição das competências humanas; nele, os cérebros das crianças são como verdadeiras esponjas que absorvem com facilidade e retêm as informações que recebem.
Muito apropriadamente, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda aos médicos que orientem as famílias a ler em voz alta diariamente para os pequenos, pois isso resulta no fortalecimento do vínculo familiar e da capacidade de aprendizado, com reflexos positivos até a vida adulta.
E, ainda, que a escolha da hora de dormir é importante pois a leitura proporciona para a criança um adormecimento tranquilo (sem TV, tablet, celular ou computador), com a presença dos pais ao lado, num momento em que ela tem que se desligar do dia e entrar no mundo dos sonhos e fantasias.
Também a Academia Americana de Pediatria preconiza, há muito tempo, a importância da leitura em casa durante a infância, acrescentando que esse hábito pode aprimorar as habilidades da linguagem e ajudar no desenvolvimento da alfabetização.
Um estudo do Hospital Infantil de Cincinnati, localizado em Ohio nos Estados Unidos, e publicado em agosto de 2015 na revista “Pediatrics”, foi um passo largo para os estudos mais aprofundados que vieram depois.
O estudo foi realizado com 19 crianças de 3 a 5 anos de idade usando imagens de ressonância magnética enquanto ouviam uma mulher lendo histórias, e demonstrou que em ambientes de leitura em casa, elas tinham maior atividade nas partes do cérebro que ajudam na compreensão narrativa e na imaginação visual.
Compreensão narrativa e imaginação visual... Vejam o cacife de ganhos para a formação da linguagem na criança. Enquanto ouve as histórias, ela, ao compreender a narrativa, “viaja”, através dos personagens, e dos cenários que cria na sua imaginação... Quanta riqueza na construção de novos conhecimentos nas memórias dos pequeninos!
Na área específica da Educação, vejamos o que consta da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) a respeito: “Na Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social.”
Não por menos, a palavra “histórias” aparece na BNCC exatas 79 vezes, ora como “objetivo de aprendizagem”, ora como “habilidade”.
A criança que agora “ouve histórias”, daqui a pouco, estará “contando histórias”. A educadora Rosa Costa escreve no seu artigo “A importância e o desafio da contação de histórias no desenvolvimento infantil: o conto e o reconto”, que “A contação de história no desenvolvimento escolar e cognitivo favorece, aguça e ativa o conhecimento da criança por meio do imaginário, do criar e recriar, do conte outra vez. Faz a criança apropriar-se de um mundo mágico, com grandes possibilidades de viagem pelo mundo do encantamento, proporciona abertura de portas, permitindo um desenvolvimento linguístico a partir do enriquecimento do seu vocabulário, além de todo um contexto que envolve a reprodução da literatura ou contação de história vivenciada."(https://www.construirnoticias.com.br/a-importancia-e-o-desafio-da-contacao-de-historias-no-desenvolvimento-infantil-o-conto-e-o-reconto/)
Ressalte-se, também, que ao ouvir histórias, a criança aprimora a competência do “saber ouvir os outros”, capacidade que perpassa os campos do cognitivo e do emocional, partes integrantes e inter-relacionadas do processo de aprendizagem. E aqui, vale enfatizar, no campo das emoções, as cinco habilidades socioemocionais preconizadas por Daniel Goleman: autoconsciência, autorregulação, automotivação, empatia e habilidades sociais, estas envolvidas na capacidade de interação social. Tudo a ver com a contação de histórias, não é?
É isso!
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Roberto Gameiro é Palestrante, Consultor e Mentor nas
áreas de “Gestão de escolas de Educação Básica” e “Educação de crianças e
adolescentes”. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br
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