Roberto Gameiro
Quando o trem parava em cada uma das estações, ele descia e batia com um martelo em todas as rodas da composição. Ele sabia do valor do seu trabalho porque o trem só saía depois que ele tivesse batido em todas as rodas. E se sentia “importante”. Assim foi durante 35 anos.
Um dia antes de se aposentar, o novo funcionário, o que ia substituí-lo e passara o dia com ele para aprender o ofício, quis saber o porquê de se bater nas rodas, o que o deixou chateado, mas respondeu-lhe: ora, eu trabalhei esse tempo todo sem saber, e você logo no primeiro dia já quer saber?
Esse relato, que pode ser fictício embora eu não tenha elementos para afirmar, é encontrado nas redes sociais com diferentes formas e desfechos; ele nos remete ao questionamento sobre a importância da capacitação e do treinamento, para o exercício de uma atividade laborativa ou da própria cidadania.
Por oportuno, vale lembrar que a capacitação profissional se refere à criação de competências, ensinando habilidades para desempenhar uma determinada função, enquanto treinamento profissional refere-se à obtenção de novas e melhores formas para pôr em prática uma habilidade já existente.
Fictício ou não, o relato acima nos estimula a realizar uma análise do contexto que nos apresenta: percebe-se que além da falha do funcionário, há uma falha da empresa que não conseguiu identificar essa fragilidade ao longo de tanto tempo; de gestores de RH, com certeza com nível superior de escolaridade, que não tiveram a percepção da importância dessa função para a segurança dos passageiros, constituindo, portanto, um ato de desrespeito aos usuários do serviço e, consequentemente, um ato falho de cidadania.
Remete-nos, também, por tabela, à importância da formação escolar para o mercado de trabalho e para o exercício da cidadania, colocando-nos no âmbito das escolas em seus diversos níveis.
E aqui, é importante abordar a figura do professor e sua formação na educação básica e na licenciatura.
Ao abordar esta temática, com especial enfoque na figura do professor, trazemos à tona uma importante discussão, em torno da qual orbitam as preocupações dos gestores escolares, na medida em que se questiona o processo de formação desse profissional, imprescindível para que se garanta educação de qualidade para esta e para as próximas gerações.
Precisamos, nas nossas escolas, de professores capacitados para o uso das novas tecnologias, que se tornem presença junto dos alunos como mediadores, orientadores, verdadeiros gestores das aprendizagens.
Que ajudem os estudantes a utilizar de maneira equilibrada e saudável as novas mídias e as redes sociais em prol da construção de novos conhecimentos, tornando prazerosas, instigadoras e desafiadoras as aulas e demais atividades pedagógicas, incluindo a conscientização para a cidadania, bem como para ações e posturas cidadãs.
Que consigam aplicar e fazer aplicar as teorias na prática, capacitando os jovens para enfrentar e vencer os desafios que a vida lhes trará, em especial no mercado de trabalho, para que, capacitados, capacitem e treinem aqueles com quem venham a trabalhar, numa práxis renovadora e realizadora.
A pergunta que não quer calar é: podemos ter a esperança de que um dia o nosso sistema educacional como um todo vai formar professores com essas competências?
Artigo publicado no "Portal UAI" em 17/05/20 e na revista "Nova Família" em 18/05/20
Publicado originalmente em 17/05/2020
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Roberto Gameiro é Mestre em Administração com ênfase em gestão estratégica de organizações, marketing e competitividade; habilitado em Pedagogia (Administração e Supervisão); licenciado em Letras; pós-graduado (lato sensu) em Avaliação Educacional e em Design Instrucional. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br
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