O TEXTO NO CONTEXTO COMO PRETEXTO - Para debates em família e na escola - Roberto Gameiro

segunda-feira, 10 de junho de 2019

HUMANO, SOCIAL E SINGULAR


Roberto Gameiro

Bernard Charlot escreveu que um aluno é também, e primeiramente, uma criança ou um adolescente, isto é, um sujeito, que é um ser humano, social e singular (Da relação com o saber, 2000).

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Como ser humano, espera-se que construa uma personalidade que o leve à autonomia, ao discernimento e, especialmente, à responsabilidade. 

Como ser social, espera-se que aprenda a viver com os outros, compreendendo-os, somando e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de todos. 

Como ser singular, espera-se que aprenda a conhecer, utilizando-se das informações para construir conhecimentos e competências que lhe permitam movimentar-se pelas inúmeras possibilidades de fazeres que a vida lhe proporcionará (veja Relatório Delors-Unesco, 1999)


Para construir-se como ser humano, social e singular, o sujeito depende fundamentalmente da convivência. É no “estar e conviver com os outros” que o indivíduo se torna “pessoa” com as inerentes racionalidade, consciência de si, capacidade de agir e discernimento de valores (Dicionário Aurélio Século XXI).

Consequentemente, espera-se que o processo de educação da criança e do adolescente proporcione as condições necessárias para que essa formação se dê a contento e plenamente.

Entretanto, a nossa sociedade não está conseguindo ser competente o suficiente para dar esse suporte, e isso se dá, por razões diferentes, em quase todos os segmentos sociais, com raras exceções.

A Constituição do Brasil preconiza, no seu artigo 205, que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade; portanto, no ambiente macro, o dever é do Estado, e, no ambiente micro, a responsabilidade pela educação dos filhos é da família.

Ocorre que, por razões também diversas, muitas famílias estão “terceirizando” a educação dos filhos para a escola, a qual deveria estar agindo apenas como agente complementar. E isso não é de hoje. E não tem dado certo.

Aí está um dos desafios que temos de enfrentar para resolver, mesmo que a longo prazo, as mazelas que assolam o país. E, como já fizeram muitos países que hoje despontam como referência em qualidade de vida da população, isso se dará pelo aprimoramento do processo de educação das crianças e dos jovens, em casa e na escola, o que resultará, com certeza, em menos violência urbana, menos corrupção e mais solidariedade e amorosidade nas relações sociais.
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Artigo editado e publicado no jornal “O Popular” de Goiânia em 18/07/17. Republicado em 10/06/19.


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terça-feira, 28 de maio de 2019

O DESEMPREGO E AS MUDANÇAS


Publicado em 28/05/19
Roberto Gameiro

O Brasil tem hoje, segundo o IBGE, 13,4 milhões de pessoas sem ocupação. Esse número equivale a mais do que toda a população da cidade de São Paulo, ou ao somatório das populações das cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Curitiba.

Ainda de acordo com o IBGE, a população ocupada (91,9 milhões) caiu -0,9% (menos 873 mil pessoas) em relação ao trimestre de outubro a dezembro de 2018.

 
É um momento muito difícil por que passa o mercado de trabalho no país, ocasionando, cada vez mais, dificuldades para acesso e ou recolocação. Não é fácil definir quais faixas etárias têm sido mais atingidas por essa verdadeira “hecatombe” empregatícia.
Os jovens, que já tinham o obstáculo da falta de experiência para acessar o primeiro emprego, e não tinham experiência por que não conseguiam o emprego, agora se juntam aos mais velhos, dispensados, que buscam recolocar-se aceitando novas funções e salários menores.
Difícil encontrar uma família que não tenha pelo menos um membro desempregado.
Esse fenômeno ocasiona mudanças que, como bolas de neve, vão mudando hábitos e posturas em todos os segmentos da atividade humana no país.
Haja mudança!
Segundo o “Institute for the future”, cerca de 85% dos empregos em 2030 ainda não foram inventados: o ritmo da mudança será tão rápido que as pessoas aprenderão momento a momento usando novas tecnologias, como a realidade aumentada e a realidade virtual, e, ainda, que a capacidade de obter novos conhecimentos será mais valiosa do que o próprio conhecimento.
Como se vê, além dos desafios inerentes à recuperação econômica para regressão do percentual de desemprego, há que se adicionar o desafio da adequação do mercado de trabalho às inovações tecnológicas e à consequente nova configuração das profissões.
Essa (nova) realidade, que inclui o incremento de iniciativas empreendedoras como forma de atividade profissional, traz novos contornos ao processo de formação dos nossos filhos. As demandas, agora, são outras. Fiquemos atentos.
Como dizia Heráclito lá pelo ano 500 aC, “nada é permanente, exceto a mudança”.

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Publicado no jornal “O Popular” de Goiânia em 29/08/2017. Atualizado no blogue em 28/05/19.


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segunda-feira, 13 de maio de 2019

TEMPO DE TRAVESSIA




Roberto Gameiro

Você já percebeu que as crianças e adolescentes, nossos filhos e alunos, nos desafiam o tempo todo a sair de uma pretensa e possível zona de conforto na qual estávamos acomodados e seguros?


Você, pai ou mãe, percebeu que o nascimento do primeiro filho delineia um antes e um depois familiar e pessoal, e que muitos dos nossos planos têm início após essa data, tendo como referência e parâmetro a vida daquele “serzinho” amado com que fomos premiados?

Fernando Teixeira de Andrade (1946-2008) escreveu certa vez: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”. (*)

Toda travessia supõe uma posição de saída e outra de chegada, intermediadas por múltiplas posições durante o percurso. 

A vida é uma constante travessia; fazemo-la às vezes sozinhos e na maioria das vezes, felizmente, acompanhados.

A família é a melhor acompanhante para a travessia. Ela nos traz a segurança de um porto seguro ao qual sempre podemos voltar, nem que seja apenas para recarregar as forças numa posição de percurso.

Os pais, os irmãos, a esposa, o marido, os filhos, os amigos mais chegados constituem, conosco, a “tripulação” dessa “nave” que conduzimos e que conduz os nossos destinos, o nosso sentido de vida.

Entretanto, muitos homens e mulheres modernos, apesar de tantos meios de comunicação disponíveis, ainda vivem solitários mesmo que acompanhados. E procuram incansavelmente algo que os complete.  

O mesmo Fernando Teixeira de Andrade nos socorre com a afirmação: “Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.”.

Lembremo-nos da afirmação que se atribui a Confúcio: “Você tem duas vidas. A segunda começa quando você percebe que só tem uma.”.

Não fique à margem da sua própria existência. Não seja coadjuvante de si mesmo. Seja protagonista da sua travessia.

(*) ANDRADE, Fernando Teixeira [O medo: o maior gigante da alma. s/e, s/d. ]

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Artigo editado e publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 07/05/19.

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segunda-feira, 29 de abril de 2019

COMO EU ME VEJO E VOCÊ ME VÊ

Rosto, Cabeça, Perfil, Perfil, Perfil






Atualizado em 04/11/22


Roberto Gameiro

É de Clarice Lispector (1920-1977), escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira, a afirmação: “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar”.


Cada um de nós tem uma imagem de si próprio, fruto das vivências e do concerto formado pelas características da personalidade e do caráter.

Nem sempre a forma como nós nos vemos coincide com a forma como os outros nos veem. Essa relação não necessariamente coincidente tem a ver com os valores que direcionam os olhares do emissor e do receptor, o que significa que não se pode afirmar que uma das visões é mais correta do que a outra.

Nesse contexto, o escritor e conferencista Paulo Vieira complementa: “A maneira como você se vê determina suas escolhas, ações, reações e, sobretudo, os resultados que tem e terá na vida”, e que “Nossas crenças sobre nós mesmos influenciam todas as nossas escolhas mais significativas e importantes, direcionando todas as nossas decisões e, portanto, determinando a vida que levamos.”.

Isso ocorre de maneira especial com as crianças e adolescentes que, por não terem ainda as conexões cerebrais suficientemente amadurecidas, apresentam tendências de copiar comportamentos sem passá-los pelo filtro da razão, o que atrapalha o discernimento da forma como se veem, e se sujeitam a aceitar facilmente a forma como os outros os veem.

Por isso, a importância da existência de “pessoas de referência” na educação e formação das crianças e adolescentes. De preferência, os próprios pais. Pessoas que sejam presentes e inspiradoras de posturas e ações construtivas e saudáveis, que encarnem valores profundos e os proclamem com força significativa para auxiliá-los no processo de amadurecimento de suas conexões cerebrais. 

Leve-se em conta, também, quem nos vê e, como escreve Clarice Lispector, quando e como nos vê. Dependendo do quem, onde, como e quando nos veem, poderemos ser valorizados positivamente ou negativamente. Procuremos, portanto, sempre que possível, estar nos lugares certos, nos momentos certos e com as pessoas certas, não nos sujeitando a sermos “avaliados” por pessoas erradas e inadequadas.

Carl Rogers (1902-1987), fundador da psicologia humanista, afirmou: “Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato do ser, é digno do respeito incondicional dos demais e de si mesmo; merece estimar-se a si mesmo e que se lhe estimem.”.

Cuidemos da nossa autoestima.

Artigo editado e publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 16/04/2019.

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segunda-feira, 15 de abril de 2019

AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS: O DESAFIO DO ENSINO

Inovação, Acho Que, Novo, Idéia


Roberto Gameiro

Competência é a capacidade de o indivíduo movimentar recursos para abordar/resolver uma situação complexa. Entre as competências que um processo de ensino e aprendizagem deve desenvolver nos estudantes, a “memorização” é a mais simples delas. Embora seja a mais simples, ela é a base que sustenta todo o arcabouço posterior que o indivíduo deve adquirir para resolver situações mais complexas.



A memorização, também denominada como fase de “conhecimento”, constitui-se na evocação de informações arquivadas ou armazenadas na memória. É como se fosse, num primeiro momento, uma memória RAM, que, transferida para o disco rígido, passa a ser base de processamentos mais apurados e complicados. Sem ela, seria como tentar construir uma casa sem o alicerce.

Por óbvio, e desculpem-me a simplicidade da comparação, nenhum engenheiro vai considerar terminada uma obra com apenas o alicerce construído. Há muito, ainda, a ser feito até que a edificação possa ser considerada concluída, sólida, pronta, satisfatória e adequada para o uso a que se destina.

Analogamente, nenhum processo de aprendizagem pode se considerado satisfatório sem que os estudantes tenham adquirido, além da memorização, também as capacidades de compreensão do que foi memorizado, de aplicação do que foi compreendido, de análise e síntese do que foi memorizado, compreendido e aplicado, e, especialmente, sem que os alunos estejam preparados para fazer julgamento crítico sobre o que foi memorizado, compreendido, aplicado, analisado e sintetizado. Esse é o ciclo completo do apaixonante concerto do aprendizado.

As competências aqui relatadas, memorização (ou conhecimento), compreensão, aplicação, análise, síntese e julgamento (ou avaliação), são as propostas por Benjamin Bloom (e outros) na sua “Taxionomia de objetivos educacionais – domínio cognitivo” lá no longínquo ano de 1956 (a primeira edição do livro no Brasil data de 1972). Hoje, fala-se em competências “básicas”, “operacionais” e “globais”, que, no fundo, podem ser classificadas como mais abrangentes, mas equivalentes às de Bloom. É comum fazer-se a analogia, a correspondência, de umas com as outras, tendo as primeiras como referência para facilitar a compreensão.

Se você quiser saber de que forma e com que profundidade um professor está desenvolvendo o processo de aprendizagem com os alunos, você não precisa necessariamente assistir às suas aulas. Basta analisar as questões inseridas nos seus instrumentos de avaliação. Ali, descobre-se se o docente está na superficialidade da mensuração apenas das competências mais simples, ou se chega a enfocar situações mais complexas, como as chamadas competências “globais”. A prova é um retrato da metodologia e da práxis docente.

A prática tem demonstrado que num grande número de escolas brasileiras a metodologia adotada não tem conseguido fazer com que os estudantes adquiram competências mais exigentes, mormente as de “síntese” e “julgamento”, ou “globais”.

Nos resultados do “Programa Internacional de Avaliação de Estudantes” (PISA), coordenado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e, no Brasil, pelo INEP, ocupamos, desde há muito, posição vexatória no ranking dos países avaliados. Entre as principais fragilidades dos estudantes brasileiros, está o fato de que eles geralmente só “vão bem” nas questões que mensuram capacidades mais rasas, ou, melhor explicando, as “decorebas”. Isso é sintomático, está assim diagnosticado há muitos anos, mas continuamos na mesma.

Somos um sistema de formação escolar que tem se contentado apenas com pouco mais do que o “alicerce”.

 Aí está o (grande) desafio ainda a ser enfrentado.

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segunda-feira, 1 de abril de 2019

A SUBJACÊNCIA DOS CICLOS SOCIAIS

Relógio, Presente, Ano, Século, Minutos

Roberto Gameiro

“Um dos mais sérios riscos em nosso tempo é a necessidade da especialização, isto é, de sermos, por força, unilaterais. À medida que todas as coisas parecem pôr-se a nosso alcance (...), bem como por causa dessa espécie de impudor com que as maiores intimidades se expõem na via pública, não obstante tudo isso, o homem moderno vive cada vez mais recolhido dentro de si próprio. Vivemos abafados por uma montanha de jornais, revistas, cartas, livros, notícias. Está tudo tão à mão, que nada é acessível.”

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O texto acima, de Américo de Castro, consta das última e penúltima capas de renomada revista, publicada em junho de 1945, sob o título "A democracia é um esforço criador", logo após o término da Segunda Guerra Mundial, ocasião em que o mundo passava por transformações sociais radicais.

Parece que foi escrito hoje, não é?

Setenta e quatro anos nos separam daquele momento. Guardadas as proporções e a diversidade das realidades que subjazem o descrito, vivemos uma época que equivale àquela, até porque foi a partir de 1946 que o conhecimento passou gradativamente a ser mais valorizado do que o trabalho operacional. Hoje, a cada dois dias, se produz mais informação que nos últimos 5 mil anos!

Vivemos plenamente a “era da informação”. Eis porque mudou radicalmente a postura esperada dos professores, que deixaram de ser os “donos do conhecimento” para serem mediadores dos alunos na busca e uso das informações e dos consequentes saberes e conhecimentos delas derivados.

Mas, por razões diferentes das de sete décadas atrás, o homem moderno continua vivendo recolhido dentro de si próprio, as intimidades são expostas sem qualquer pudor nas redes sociais, e há tanta informação disponível, que não se sabe bem o que fazer com tanta fartura.

E o autor prossegue no seu texto: "É mister mostrar quais são as perspectivas de um mundo melhor, no qual o sorriso não chegue a ser uma inesperada impertinência.".

Realmente, a sociedade passa por ciclos cujas características, embora subjacentemente diversas, cabem nas mesmas descrições.

Artigo editado e publicado no jornal "O Popular" de Goiânia no dia 27/03/2019 sob o título "As subjacências sociais".

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segunda-feira, 18 de março de 2019

AS PROFISSÕES E A LÍNGUA PORTUGUESA

Grupo, Pessoal, Gabarito, Confirmando
Roberto Gameiro

Há algum tempo, com o intuito de colaborar com um jornalista de TV que insistia em falar “subsídio” com som de “subzídio” enquanto todos os seus colegas falam o termo corretamente, entrei no site da emissora para enviar o recado. Entretanto, após o registro do recado, tive de começar a preencher um longo questionário com: nome completo, endereço completo, RG, CPF, telefone, e-mail e respostas a uma série de perguntas. Só faltou pedir o número do meu sapato (rss). Desisti. E ele continua falando o termo de forma errada.



No “Aurélio”, encontramos uma das definições de “Profissão” como sendo “atividade ou ocupação especializada, e que supõe determinado preparo”.

O “determinado preparo”, acredito, refere-se aos conhecimentos inerentes ao exercício daquela profissão em particular.

Dá gosto dialogar com profissionais que conhecem profundamente os fundamentos, as práticas e as novidades do mercado relacionadas ao seu métier, à sua especialização.

Mas, mais do que isso, como é agradável conversar com quem sabe usar bem a língua portuguesa, sem cometer aqueles erros graves que nos “doem nos ouvidos”.

Há determinadas profissões em que a utilização correta da língua portuguesa acrescenta credibilidade às competências inerentes à ocupação respectiva.

Neste artigo, permito-me referir a profissionais da comunicação, inclusive professores. E começo homenageando esses profissionais pela importância que suas profissões agregam à sociedade como um todo, especialmente às crianças e adolescentes, que estão em fase de formação. Diariamente, nas suas diversas modalidades de atuação, comunicam-se com a população, pessoalmente ou por meio das mídias. Participam, portanto, do processo de educação dos jovens com informações que vão ser agregadas à cognição deles.

Mas, por mais competentes que esses profissionais sejam nas suas especializações, não há como aceitar erros crassos de fala e escrita de alguns poucos como, por exemplo, “previlégio” no lugar de “privilégio”, “subsídio (subzídio)” no lugar de “subsídio (subssídio)”, “de encontro a” no lugar de “ao encontro de”, “esteje” no lugar de “esteja”, “análize” no lugar de “análise”, “mal” no lugar de “mau”, “a” no lugar de “há”, “perca” no lugar de “perda”, “comprimento” no lugar de “cumprimento” etc.

Há um velho ditado que diz que “errar é humano, mas persistir no erro é burrice”. A língua portuguesa é bastante complexa e, mesmo os que a usam habitualmente na sua profissão, cometem erros que, quando os identificam, ficam sem graça e desconcertados; mas corrigem-se e não erram mais. 

Sempre que pudermos, vamos colaborar com os que necessitam de uma “ajudinha” em relação a esses termos corriqueiros. Sob pena, inclusive, de eles não gostarem.

Entretanto, há que se registrar que o nosso idioma é uma língua viva e, como tal, está sujeito a acomodações semânticas, ortográficas e fonéticas em função da repetição exaustiva da escrita ou da fala de determinados significantes, ou de reformas ortográficas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a expressão “através de”, que, a partir do dicionário “Aurélio Século XXI” teve o seu significado ampliado para “por intermédio de”. Acredito que analogamente, com o tempo, será aceita a palavra “subsídio” com o som de “subzídio”; mas, por enquanto, essa pronúncia é errada. 

E mais: talvez vocês se lembrem de que há muitos anos, quando nos aproximávamos, numa rodovia, de algumas cidades, encontrávamos à beira da estrada um grande outdoor com os dizeres: “Fique tranquilo. Aqui tem (e o nome de uma provedora de planos de saúde)”. Àquela época, teríamos de ler aquela palavra “tranquilo” com o som de “trankilo” pois deveria haver um trema no “u” para que ela pudesse ser lida corretamente, e não havia. Pois bem, após a reforma ortográfica, a palavra perdeu o trema e o que era errado, agora é certo. Durma-se com esse “barulho”.


Água mole em pedra dura...

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Artigo editado e publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 12/03/19 e atualizado em 22/02/20.

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segunda-feira, 4 de março de 2019

A BUSCA NECESSÁRIA DE EVIDÊNCIAS

Silhuetas, Pessoa, Máscara



Roberto Gameiro


As ponderações constantes neste artigo nos impelem a refletir sobre o processo de formação das crianças e adolescentes cuja condução está sob a nossa responsabilidade.


Na nossa memória de longo prazo, temos conhecimentos construídos ao longo da vida, os quais são denominados “conhecimentos prévios” que sustentam nossa cognição e nossas emoções e servem de base para a construção de novos conhecimentos a partir dos novos dados e informações que recebemos a todo momento. É, portanto, uma construção somativa cumulativa que vai crescendo sem que percebamos e formatando nossas percepções, nossas tomadas de decisão e nossas identidades como seres humanos e sujeitos de papéis sociais.

René Descartes (1596-1650) escreveu no seu “Meditações Metafísicas”, na “Meditação Primeira”: “Há já algum tempo me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera grande quantidade de falsas opiniões como verdadeiras e que o que depois fundei sobre princípios tão mal assegurados só podia ser muito duvidoso e incerto; ...”

Quantas falsas informações recebemos como verdadeiras sem cotejar com evidências que as validem, e as aceitamos como tal, inserindo-as na nossa memória e ponto.

Essas falsas informações vão servir de “adubo” receptáculo na inserção de novos dados e informações, construindo novos conhecimentos falhos na base.

É uma espécie de “bola de neve” que vai crescendo e nos iludindo, fazendo-nos tomar decisões erradas, conflituosas e ausentes de evidências comprobatórias.

Isso causa uma confusão mental significativa, principalmente se conflitivas com o nosso caráter e nossa personalidade.

É nesse momento que vale a pena conhecer a continuidade do texto de Descartes: “...de forma que me era preciso empreender seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões que até então aceitara em minha crença e começar tudo de novo desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo firme e constante nas ciências”.

 Você está ou já esteve nessa situação?

E as nossas crianças e adolescentes? Estão sendo capacitadas para discernir entre o certo e o errado?  Em meio a tantas novas tecnologias da informação disponíveis, estão habilitadas a procurar evidências que validem o que leem e ouvem, em fontes fidedignas, antes de aceitar como verdadeiras as informações, ou os dados? 

Não basta, portanto, que nós adultos assumamos a postura da dúvida proposta por Descartes há quase quatrocentos anos, no texto aqui apresentado, ou parte dela. Há que se capacitar os meninos e as meninas para assumir essa forma de tratar a construção dos seus conhecimentos, para não caírem nas armadilhas inerentes.

Se cada um de nós cuidar dos seus, além de contribuirmos para a importante formação de uma criança ou adolescente, construiremos, também, uma sociedade melhor, mais verdadeira e mais confiável. 


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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

NOSSOS FILHOS, NOSSOS PORES DO SOL

Pôr Do Sol, Criança, Mãe, Aprendizagem

Roberto Gameiro

Carl Rogers, psicólogo, psicoterapeuta e escritor americano, desenvolvedor da ACP (abordagem centrada na pessoa), escreveu, em 1980, no seu título “Um jeito de Ser”: "As pessoas são tão belas quanto um pôr do sol quando as deixamos ser. De fato, talvez possamos apreciar um pôr do sol justamente pelo fato de não o podermos controlar. Quando olho para um pôr do sol, como fiz numa tarde destas, não me ponho a dizer: ‘Diminua um pouco o tom laranja no canto direito, ponha um pouco mais de vermelho púrpura na base e use um pouco mais de rosa naquela nuvem’. Não faço isso. Não tento controlar um pôr do sol. Olho com admiração a sua evolução. Gosto mais de mim quando consigo contemplar assim.".


O momento diário do crepúsculo vespertino, o ocaso, é um espetáculo que a natureza nos concede e que nos traz prazer e deleite, apazigua nossos corações e antecipa a beleza que será o dia seguinte.

Feliz a família que consegue, unida e presente, apreciar os pores do sol aproveitando seus matizes para emoldurar e deixar fluir emoções, afetos e gestos amorosos.

É um “deixar se levar” pelo silêncio de algo gigantesco que se nos apresenta todos os dias, com cores, luzes e movimentos que extrapolam o senso do objetivo e do subjetivo, da razão e da emoção, trazendo-nos suavemente à mente a grandeza do Criador.

Nossos filhos são como pores do sol a iluminar nossos dias, acalentando-nos, desafiando nossas percepções e ensinando-nos que nem tudo pode ser objeto do nosso controle, mas que tudo pode ser sujeito de apreciação, amor, carinho e dedicação.

Acalentando, desafiando e ensinando, num misto de convite à perseverança e à resiliência. Com eles, sentimo-nos mais fortes para enfrentar as possíveis agruras do dia a dia.

Todos nós temos naturalmente aquele estímulo interior que nos serve de motivação para enfrentar os obstáculos que a vida nos traz. Mas, quando temos filhos, essa força interior se potencializa de tal forma que somos capazes de nos superar continuamente encontrando e vivenciando competências e habilidades ativadas não se sabe de onde nem o porquê.

Nossos filhos vivem em nossas mentes e em nossos corações, alimentam-nos de esperanças, enchem de cores a nossa existência, mas  sabemos  que,  como  seres  humanos,  são  dotados do livre-arbítrio, dom atribuído pelo Criador, que os torna singulares e fadados à autonomia.

Essa singularidade e essa autonomia revelam-se na medida em que eles, através de um processo de educação baseado em princípios e valores saudáveis, sejam capazes de construir conhecimentos que lhes permitam movimentar-se pelas inúmeras possibilidades de fazeres que a vida lhes proporcionará. 

Como escreveu Barry Stevens, escritora e terapeuta americana, que também trabalhou com Carl Rogers:

“Não apresse o rio; ele corre sozinho”.

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Artigo publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 12/02/19.

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

INDISCIPLINA NAS ESCOLAS

Classe, Sala De Aula, Professora

Roberto Gameiro

É de fácil constatação que a indisciplina dos estudantes em muitas das escolas públicas começa nos ciclos iniciais e vai progressivamente aumentando  conforme se desenvolvem as séries da Educação Básica.


Isso se deve em grande parte à desagregação de famílias e a consequente falta de orientação em valores morais e éticos. Deve-se, também, à violência que grassa ao redor das vivências sociais de muitas dessas crianças e adolescentes que passam a ser verdadeiras vítimas do ambiente em que convivem. Claro que não se pode generalizar a questão, sob pena de sermos injustos com aquela parcela de alunos disciplinados e famílias bem constituídas, cooperadoras e participativas.



Essa violência é levada de diversas formas para dentro das escolas públicas, o que torna os professores reféns de um ambiente inóspito que causa angústia e desestímulo.

Mas acreditem; não são apenas as escolas públicas que estão sofrendo desses males. Com nuances um pouco diferentes nas causas e nas consequências, também as escolas particulares padecem nas mãos de certo número de estudantes irreverentes e famílias não participativas que “sabem” de seus direitos, mas ignoram seus deveres.

Telma Vinha, pedagoga e doutora em educação, escreve que  “independentemente de a família desempenhar seu papel, a escola necessita educar seus alunos para a vivência em uma sociedade democrática e contemporânea. Não pode ficar esperando mudanças nas famílias, receber alunos ideais ou que já tenham determinadas características para achar que, assim, terá êxito em sua tarefa. O desafio é dar conta do que acontece dentro do espaço de sua responsabilidade, no que se refere tanto à construção da moralidade, quanto à aquisição do conhecimento.”.  

Entretanto, é significativo o nível de tensão existente no dia a dia de diretores, coordenadores, orientadores e professores, fruto desse fenômeno que atualmente aparece em muitas das relações escolares envolvendo escolas, famílias e estudantes.

Isso tem levado um grande número de professores a abandonar o magistério para procurar outras áreas de atuação profissional, além de desestimular a escolha do magistério nas opções de graduação em nível superior.

A erradicação desses males terá de ser feita através de um esforço competente de toda a sociedade, a partir das posturas e ações dos cidadãos, especialmente dos pais e ou responsáveis, bem como das escolas.

Há que se valorizar aqueles pais que são verdadeiros parceiros das escolas e dos educadores que cuidam de seus filhos, dando-lhes o apoio e o reconhecimento que eles fazem por merecer no exercício dessa nobre profissão.


Há que se valorizar, também, aquelas escolas que já perceberam que sua atuação não se restringe à aquisição de conhecimentos por parte dos alunos, mas extrapola esse quesito, movimentando-se também nos aspectos educacionais da formação em valores morais e éticos para a capacitação de cidadãos conscientes e participativos.


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Artigo editado e publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 29/01/19.

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Roberto Gameiro é Palestrante, Consultor e Mentor nas áreas de “Gestão de escolas de Educação Básica” e “Educação de crianças e adolescentes”. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br.

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