Roberto Gameiro
“Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração”: assim canta Milton Nascimento numa de suas mais belas canções.
Sócrates, o filósofo, disse, um dia, que "para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolver em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos".
Os bons relacionamentos entre os indivíduos, tanto nos aspectos pessoais quanto nos profissionais, são caracterizados por posturas marcantes; entre elas, está, sem dúvida, a sinceridade. Ser sincero significa elogiar e alertar nos momentos e nas medidas certas. Um amigo que não elogia as nossas posturas e ações que merecem o elogio e não nos alerta para aquelas não adequadas, impróprias, não pertinentes, melhor não tê-lo como tal. Um amigo será solidário conosco nas nossas boas causas, mas não será conivente com os nossos erros.
Quando, no seu trabalho, você faz a gestão de uma colegiada e tem um subordinado que só faz dizer amém a tudo o que você fala ou propõe, sem jamais questionar ou acrescentar, e você sabe que vai ser sempre assim, tenha a certeza de que, para tomar decisões, das mais simples às mais complexas, você tem um voto confiável a menos na equipe.
Há que se ter o cuidado, entretanto, de não confundir amizade com submissão. Amigos de verdade, autênticos, não têm hierarquia. Desenvolver em nós mesmos as qualidades daquele a quem admiramos, como caracteriza Sócrates, não deve nos colocar em situação inferior àquele, como se estivéssemos apenas “em busca” d’algo que ele já tem de sobejo e, por isso, obedecemos a qualquer comando dele. Essa postura é, a médio prazo, aniquiladora de identidades e de dignidades. Observe, porém, que não estamos falando em "competências", mas em "qualidades".
Não existe “amizade boa” ou “amizade má”. O termo "amizade" só traz conotações ou qualidades positivas como afeição, simpatia, estima, entendimento, fraternidade, benevolência, bondade, dedicação, sinceridade; verdadeiras virtudes.
Não existe “amizade boa” ou “amizade má”. O termo "amizade" só traz conotações ou qualidades positivas como afeição, simpatia, estima, entendimento, fraternidade, benevolência, bondade, dedicação, sinceridade; verdadeiras virtudes.
Por outro lado, há que se ter muito cuidado com os bajuladores. Não se pode confiar sempre neles. Alguns são "estratégicos"; podem trair a qualquer momento. O bajulador estratégico elogia no início e, quando consegue a sua confiança, começa a denegrir a sua imagem diante dos demais de forma gradativamente mais intensa, sob a pecha de ser "seu amigo". Geralmente, ele quer o cargo que você ocupa.
Um amigo é único entre muitos e necessita de mim, tanto quanto eu necessito dele. Temos laços criados, construídos e perenizados pela amizade. Lembram do diálogo da Raposa com o Pequeno Príncipe a respeito do termo “cativar”?
“(...) disse o principezinho (...)
- Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços”.
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto igual a cem mil outros garotos. Eu não tenho necessidade de ti. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”.
Saibamos valorizar as amizades que temos, mantendo-as cativas, alimentando-as, preservando-as e procuremos aumentar o nosso círculo de amigos; podemos precisar uns dos outros a qualquer momento.
Isso não tem dinheiro que pague.
Vamos conversar sobre esse assunto com nossos familiares (especialmente com os filhos), alunos e amigos?
Vamos conversar sobre esse assunto com nossos familiares (especialmente com os filhos), alunos e amigos?
Artigo publicado originalmente em 08/09/17. Atualizado em 01/09/19.
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